"It is time!", por Bruce Buffer

sábado, março 07, 2020 Sidney Puterman


Inesperadamente, um livro divertido. Digo inesperadamente porque falo de um livro que eu jamais compraria e, se comprasse, não leria. Mas foi presente de filho - então, mofou alguns anos na estante até que, determinado dia, puxei o dito cujo. Me sentia afetivamente devedor da leitura do brilhoso calhamaço. E, como para o momento em questão eu procurava mesmo alguma leitura besta para dias física e emocionalmente difíceis, este me pareceu adequado. E, confesso, não decepcionou, sequer no que diz respeito às piores partes: são fracas mesmo. É aquele textozinho padrão fast food das celebridades americanas. O autor diz o quanto ele é foda, o quanto ele ganhou dinheiro, o quanto ele é honesto, o quanto ele é amigo etc etc. Mas todo este megacombo maçante pode ser relevado diante de um pressuposto simples: você, que vai ler, acompanha a porradaria do UFC? (a propósito, dentro de algumas horas rola em Las Vegas o lutaço Israel Adesanya vs Yoel Romero, com a chinesa Zhang Weili e a polonesa Joanna Jedrzejczyk no co-main event, ambas valendo o cinturão.) Se sim, o livro será uma leitura 50% interessante (porque em metade do tempo ele se vangloria de assuntos relativos ao UFC, e na outra metade ele se vangloria de outras coisas). Mas, se você não é ligado no UFC, nem cogite - o cartapácio de self-marketing do Bruce não tem nada além disso a oferecer. Bruce Buffer é "a voz do octógono", o apresentador dos mais importantes eventos de MMA do planeta, dono dos bordões "It's time" (no título está sem a contração, porque o apóstrofo na headline desconfigura a interface do blog) e "this is the moment you've all been waiting for". Ele conta da sua juventude marcada pela prática das artes marciais, do milionário sucesso profissional e das garotas que conquista invariavelmente toda noite, solteirão inveterado que é. Ele diz também como é um ótimo filho e um ótimo irmão; e como sustentou os pais e fez da carreira do irmão um sucesso. Ah, fala também como ele é uma fera internacional no pôquer, do quanto é famoso entre os famosos, como tem amigos artistas e como é parceiro íntimo dos lutadores; e, de lambuja, conta de quando ele trocou socos com o lutador do UFC Frank Trigg, dentro de um elevador, na presença do Dana White. O livro também traz umas dicas irreverentes de auto-ajuda, além de muitas outras, apenas imbecis. Resumindo, é a biografia de um coadjuvante de luxo se gabando de que é uma estrela. Na melhor das hipóteses, é uma leitura para quem não tem o que fazer e está em um ambiente de pouca luz (as letras grandes são uma mão na roda). Com uma capa laminada, envernizada e egocêntrica, um subtítulo idiota e páginas grossas como uma folha de compensado, a edição parece um produto de marketing, financiado pelo próprio autor, e vendido pela metade do custo de produção. Fora isso, me diverti.

Companhia Editora Nacional (não disse?), 279 páginas

P.S.: A foto do post é uma gaiatice num cercadinho. Taí só porque lembra um octógono. Como criticar o ricaço Bruce, se eu, pobrinho, também cometo as minhas presepadas?

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

2 comentários:

  1. Só não foi profético o adjetivo da luta do Romero x adesayana.... booooooring... rsrsrsr

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  2. Hehe põe boring nisso, Thomaz! Mas, em compensação, a luta das meninas Zhang e Joanna foi uma das maiores do MMA feminino em todos os tempos. Se o Dana soubesse, tinha invertido a ordem do card...

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