"Eu sou Camille Desmoulins", por Hermínio Miranda e Luciano dos Anjos
Camille Desmoulins morreu aos 33 anos, guilhotinado. Se formou advogado, mas brilhou na política, como jornalista. Desempenhou importante papel na Revolução Francesa - inicialmente, deflagrando-a; ao fim (literalmente), combatendo-a. Foi amigo de infância de Maximilien Robespierre, que o condenou à morte. Foi também amigo e aliado político de Georges Danton, ao lado de quem foi despachado. Camille Desmolins é co-autor do livro, mas o escreveu quase dois séculos após a própria morte: reencarnado no Brasil dos anos 60, quem o ditou foi o jornalista brasileiro Luciano dos Anjos. É a poeira cósmica dos tempos. Ainda que trate de mortos que falam pela boca dos vivos, o livro não é de ficção ou psicografado. É obra de cunho histórico-científico, lastreado em pesquisas bibliográficas e sessões de hipnose e regressão de memória às quais se submeteu Luciano dos Anjos. Já o autor "principal", Hermínio Miranda, é nome proeminente no Espiritismo científico. Um estudioso erudito e ponderado. Os temas que aborda são, via de regra, históricos ou teológicos - com inúmeras concessões à Psicologia, quando Hermínio envereda pelas entranhas da mente (memória, autismo e múltipla personalidade foram, cada um a sua vez, pauta principal de livros seus). Miranda geralmente age como observador e compilador, intervindo de maneira cuidadosa e se mantendo pessoalmente à prudente distância. Neste "Eu sou Camille Desmoulins", sua presença difere um pouco da sua praxe, ao se colocar no centro da ação, com o livro trazendo sessões mediúnicas em que o próprio Hermínio esteve presente. O ponto de partida foi uma sessão no longíquo ano de 1967, em que o jornalista espírita Luciano dos Anos, reticente quanto à própria sugestionabilidade, se submete ao desafio de um transe hipnótico. Nele, para sua surpresa posterior, Luciano se assumiu um personagem secundário da História francesa, disse coisas inusitadas e despertou a curiosidade de Hermínio. Mas a excursão pelo subconsciente de Luciano não foi à frente; a fita da sessão foi esquecida em uma gaveta; e não mais tocaram no assunto nos 13 anos seguintes. O hiato teve sua razão. Ao pesquisar a vida de Desmoulins, Hermínio identificou no relato de dos Anjos uma série de incongruências, tornando-o suscetível a questionamentos. Houve divergência de nomes e informações conflitantes. Melhor deixar de lado, se o tema já é naturalmente controverso. Em 1980, entretanto, tendo inusitadamente deparado com fontes que respaldavam as afirmações de Luciano na década anterior, Hermínio e o médium combinaram novas sessões - e o material coletado foi o alicerce do livro, que resolveram escrever a quatro mãos. É impactante a descrição dos pequenos detalhes, como a lembrança de Camille do trajeto em que seguia com os demais condenados do dia, rumo à execução. Em prantos, o autor reencarnado admite sua covardia perante a guilhotina e reverencia a postura corajosa de Danton. Antes, contou mais, e nos agrada ouvir da própria boca de um contemporâneo minudências rotineiras, como a relação de valores de trabalho e produtos existente à época. Não só: é prazeiroso caminhar pelos palácios, tavernas e calabouços de um momento decisivo da política européia e mundial. Fato é que viajar no tempo é o sonho máximo dos devotos da História, e o testemunho de um personagem "redivivo" constitui um presente ímpar. Isto posto, não obstante o brilhante esforço de Hermínio, meticuloso e honesto, seu monumental estudo não rendeu um bom livro. As falas de Desmoulins/dos Anjos são dispersas e picotadas; e as notas históricas após cada capítulo são demasiadas. Extensas e maçantes. O livro não flui. É uma rodovia de calçamento irregular, com quebra-molas de variada altura, dispostos a cada 100m. Ademais, se a primeira parte, escrita por Hermínio, contribui para a comprovação da reencarnação como verdade histórica, a segunda revela a baixa qualidade do texto do médium, que responde pela parte final do livro. Nela, dos Anjos se jacta verborragicamente em cada uma das páginas e descreve em minúcias sua atual história de vida, que é desinteressante. Outrossim, se sua passagem anterior pelo planeta, como Camille Desmoulins, teve mais importância, esta, de forma consoante, revela um personagem fútil e desagradável, a despeito de seu eventual (e relativo) protagonismo. Se a obra fundamenta a convicção das vidas sucessivas, deixa claro também que os chatos e presunçosos têm enorme probabilidade de reencarnarem chatos e presunçosos. Como bem o sabem os leitores do Pentateuco, o aprendizado é lento.Lachâtre Publicações, 375 páginas
Obs.: Pesquisando sobre Luciano dos Anjos na internet, fui cair em blogs sensacionalistas, mal diagramados e com uma agressividade descabida, denunciando os 160 anos da doutrina como uma trajetória de farsas e imposturas. Retrógrado. Não é difícil imaginar o grupo religioso-capitalista por trás dessa sandice. Técnica digna do século 19. Diante do acinte e do despropósito, só me resta repetir: o aprendizado é lento.
Não passa de um rustenguista bobo.
ResponderExcluirRoustainguista....aprenda a escrever primeiro......
Excluirfiquei decepcionada,mas é sua opinião respeito!
ResponderExcluirNão entendi ao que você se refere...
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