"Casagrande e seus demônios", por Gilvan Ribeiro

sexta-feira, agosto 23, 2013 Sidney Puterman


Um zero a zero arrastado. Um livro raso. Uma obra insípida que, se nessa catarse impressa revela os maus momentos do dependente químico Walter Casagrande, é, de fato, uma ode à sua personalidade, conquistas e atitudes – abordagem porosa e manquitola que, por mambembe, não tem onde se apoiar. O que ganhou, no cenário esportivo - se foi muito -, não o difere de milhares de outros. Aqui, o Casagrande exposto é uma coletânea dos seus estereótipos. À exceção das fotos, que são ótimas, o texto e o conteúdo são maçantes. Bem-comportados. O oposto da persona pública, carregada de irreverência e de quem se espera uma sedutora autenticidade. No livro (chato), se salvam uma ou outra passagem da abertura, como o périplo do ex-jogador equilibrando-se entre as drogas e a família, e as referências depreciativas sobre o ex-parceiro Sócrates, exibindo aí as idiossincrasias que permitem a nós, mortais, a dimensão humana do ídolo (só que, nesse raro caso em que pesa a mão nos “defeitos”, Gilvan fala não do protagonista, mas de um amigo dele, o falecido Doutor). A obra, a propósito, é um rol de elogios e loas ao “Casão”, pontilhada por uma seleção de passagens absolutamente banais: uma torcedora cearense que ele comeu e a quem deu a camisa de outro jogador; que ele gostava do decote da Fafá de Belém; que ele atendeu um telefonema do Belchior; que ele convenceu o Gonzaguinha a ir um show; que ele contou prum amigo que comeu a namorada dele; etc. Como fechamento, o livro traz o depoimento do “co-autor” Casagrande, que se restringe a mais do mesmo e, por isso, desnecessário. Repete o já narrado e usa à exaustão a pouco melodiosa expressão “caralho” - provavelmente como uma assinatura estilística. Não obstante, o marketing da publicação foi bem feito e o alçou à lista dos best-sellers (decerto me induziu a comprá-lo). Bom trabalho de divulgação, sobre um sujeito interessante, mal retratado em um livro fraco.

Globo Livros, 242 páginas.

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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