"Casagrande e seus demônios", por Gilvan Ribeiro
Um zero a zero arrastado. Um livro raso. Uma obra insípida
que, se nessa catarse impressa revela os maus momentos do dependente químico
Walter Casagrande, é, de fato, uma ode à sua personalidade, conquistas e atitudes – abordagem porosa e manquitola que, por mambembe, não tem onde se apoiar. O que ganhou, no cenário esportivo - se foi muito -, não o difere de milhares de outros. Aqui, o Casagrande exposto é uma coletânea dos seus estereótipos.
À exceção das fotos, que são ótimas, o texto e o conteúdo são maçantes. Bem-comportados. O oposto da persona pública, carregada de irreverência e de quem se espera uma sedutora autenticidade. No livro (chato), se
salvam uma ou outra passagem da abertura, como o périplo do ex-jogador equilibrando-se entre as drogas e a família, e as referências depreciativas sobre
o ex-parceiro Sócrates, exibindo aí as idiossincrasias que permitem a nós, mortais, a dimensão humana do ídolo (só que,
nesse raro caso em que pesa a mão nos “defeitos”, Gilvan fala não do protagonista, mas de um amigo dele, o falecido Doutor). A obra, a propósito, é um rol de elogios e loas ao “Casão”, pontilhada por uma
seleção de passagens absolutamente banais: uma torcedora cearense que ele comeu
e a quem deu a camisa de outro jogador; que ele gostava do decote da Fafá
de Belém; que ele atendeu um telefonema do Belchior; que ele convenceu o
Gonzaguinha a ir um show; que ele contou prum amigo que comeu a namorada dele;
etc. Como fechamento, o livro traz o depoimento do “co-autor” Casagrande, que se restringe a mais do mesmo e, por isso, desnecessário. Repete o já narrado e usa à exaustão a pouco melodiosa expressão “caralho” - provavelmente como uma assinatura estilística. Não obstante, o marketing da publicação foi
bem feito e o alçou à lista dos best-sellers (decerto me induziu a
comprá-lo). Bom trabalho de divulgação, sobre um sujeito interessante, mal retratado em um livro fraco.
Globo Livros, 242 páginas.
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