"Tóquio Proibida", por Jake Adelstein
O bom Jake tem suas qualidades. O texto é seco e sua retórica
remete à locução em off típica dos filmes noir, ainda que ambientada no Japão dos anos 90. Porém, se seu estilo cortante e suas reflexões enfatizam
continuamente os perigos do submundo do crime na terra do sol nascente, o
leitor jamais percebe no conteúdo o que tanto Adelstein carrega em seus
adjetivos. As histórias oferecidas
– coberturas jornalísticas das quais o autor tomou parte ou protagonizou - são
fragmentadas, banais e o seu alardeado teor de criminalidade é inexpressivo (para nós, acostumados que somos às atrocidades diárias dos telejornais). Com isso, a relevância de um cotidiano ameaçador se restringe à mente de Adelstein; para quem, como nós, vive na terra das UPPs metralhadas, é um relato
carente de grandes emoções. O que nos sobra são as divertidas páginas iniciais, que narram sua experiência inusitada de judeu americano em vias de se
formar como jornalista no Japão. Ali, as técnicas de apuração e o funcionamento das
redações despertam o interesse de quem é do ramo. Mas, quando ele se debruça
sobre o que descobrimos era, afinal, o tema do seu “aterrorizante” livro – o
sigiloso transplante de fígado que um integrante da Yazuka fez nos EUA -, não
dá pra ficar empolgado. Ou seja: descontando esse capítulo e ainda o engraçado tour pela zona de
prostituição de Tóquio (as taras dos japas são exóticas), o livro não passa, se muito, de curioso. Tendo tempo e estando o livro à mão, um
passatempo razoável para quem lê de um tudo. Mas nem um sushi
a mais.
Companhia das Letras, 455 páginas.
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