"Tóquio Proibida", por Jake Adelstein

sábado, agosto 17, 2013 Sidney Puterman


O bom Jake tem suas qualidades. O texto é seco e sua retórica remete à locução em off típica dos filmes noir, ainda que ambientada no Japão dos anos 90. Porém, se seu estilo cortante e suas reflexões enfatizam continuamente os perigos do submundo do crime na terra do sol nascente, o leitor jamais percebe no conteúdo o que tanto Adelstein carrega em seus adjetivos. As histórias oferecidas – coberturas jornalísticas das quais o autor tomou parte ou protagonizou - são fragmentadas, banais e o seu alardeado teor de criminalidade é inexpressivo (para nós, acostumados que somos às atrocidades diárias dos telejornais). Com isso, a relevância de um cotidiano ameaçador se restringe à mente de Adelstein; para quem, como nós, vive na terra das UPPs metralhadas, é um relato carente de grandes emoções. O que nos sobra são as divertidas páginas iniciais, que narram sua experiência inusitada de judeu americano em vias de se formar como jornalista no Japão. Ali, as técnicas de apuração e o funcionamento das redações despertam o interesse de quem é do ramo. Mas, quando ele se debruça sobre o que descobrimos era, afinal, o tema do seu “aterrorizante” livro – o sigiloso transplante de fígado que um integrante da Yazuka fez nos EUA -, não dá pra ficar empolgado. Ou seja: descontando esse capítulo e ainda o engraçado tour pela zona de prostituição de Tóquio (as taras dos japas são exóticas), o livro não passa, se muito, de curioso. Tendo tempo e estando o livro à mão, um passatempo razoável para quem lê de um tudo. Mas nem um sushi a mais.

Companhia das Letras, 455 páginas.

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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