"O discurso do rei", por Mark Logue e Peter Conradi
Vou logo avisando que esse é um livro para… desavisados. Por isso, caso você insista, me isente de culpa; quem avisa, amigo é. O tal, antes de mais nada, é um confessado caça-níqueis. Ora, se há um filme que vai fazer sucesso e eu posso contar a mesma história do filme, com o mesmo título e com direito aos dois principais atores “ilustrando”a capa, o faturamento é garantido, não é? Assim pensado, assim feito. Mas o conteúdo é ralo. A abordagem é bajuladora. A análise é nenhuma. O prisma histórico é tendencioso. O que sobra? Bem… Um australiano e sua esposa em constantes férias (cujo bebê largam para trás) é alvo de intermináveis elogios por parte do autor, como se tivessem descoberto a América. Um monarca que era reserva do reserva do trono encara a rotina de discursos enfadonhos para uma corte de puxa-sacos como se fosse um ato de heroísmo – quando, em verdade, eram somente discursos diplomáticos irrelevantes. O australiano inconsequente e o monarca gago se encontram. O primeiro vira uma espécie de sir pai-de-santo, dando um descarrego na gagueira do rei – sem nenhuma técnica especial ou qualquer contribuição científica que cooperasse para que outros com problema idêntico encontrassem a cura. O terapeuta, pelo que podemos ver em meio a dezenas de parágrafos de babação real, era um motivador à la “Joel Santana”, que soube mexer com a psique do Rei George. Li o livro, não gostei, e fui ver o filme, que não gostei também; o que, de fato, aliviou essa resenha. Porque o filme, apesar dos Oscars recebidos, era tão ruim e tão superficial históricamente (mentiroso, né) que amenizou a ruindade do livro - assim poupado de críticas mais ácidas. Imagine se não.
José Olympio, 259 pgs
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