"Invasão de Campo", por Barbara Smit
Um livro cujo subtítulo é sintético e preciso: “Adidas, Puma e os bastidores do esporte moderno”. E adianto que o de mais interessante nele para nós, tupiniquins, são os tais dos bastidores.
O ponto de partida, os irmãos sapateiros Adolph e Rudolph Dassler, que fizeram da sua abnegação e talento uma indústria e um imbroglio internacional, é bem cerzido – e não vamos deixar de fora sua simpática e generosa contribuição ao esforço de guerra nazista, bem como a importância das encomendas governamentais para o crescimento da Adidas. Porém, é nos anos do pós-guerra que a empresa dá formato ao marketing esportivo como o que conhecemos hoje – no que ele tem de melhor e de pior. Com a Puma saída das suas costelas, é pelas negociatas e acordos feitos por baixo do pano que nos divertimos com um esporte (“amador”) onde todo mundo leva algum para usar, fazer ou deixar alguém fazer alguma coisa. E não deixa de ser um tempero especial a importante participação dos brasileiros nessa babel, com Pelé e outros atletas canarinhos fazendo seus acordos paralelos. Contudo, o destaque nacional é o espaço privilegiado dado a Jean Marie – ops, João – Havelange: ele destrona a candidatura do sir inglês, coopta dirigentes africanos com promessas (cumpridas) e bugigangas (em espécie) e, como consequência, conquista a presidência da Fifa, em 1974. Alguém aí achou parecida essa história, tão antiga, com os fatos recentes? Pois é. E temos ainda monsieur Joseph Blatter, coadjuvante então, estrela-mor agora, participando com garbo dos dois elencos. Um bom livro, onde, ao fim, saciados, constatamos que na arte de surrupiar, mentir e subornar os gringos são ótimos – mas há vezes em que sucumbem diante da expertise brasileira. O que não deixa de ser uma vingança técnica contra os nossos colonizadores europeus.
Jorge Zahar Editor, 352 pgs
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