"Complô contra a América", por Philip Roth
Iniciei a leitura esperando uma sucessão de clichês. Sabendo que o livro era uma ficção histórica, que partia do pressuposto da vitória de uma candidatura republicana simpática ao nazismo na eleição presidencial dos EUA, em 1940 - em plena Segunda Guerra Mundial –, aguardei pelo avanço de marines com suásticas no braço, cantando o hino americano em alemão. Mas o que Philip Roth nos traz é uma delicada e sutil tessitura, onde um menino de 9 anos narra os conflitos de sua pequena família, impactada muito mais pelo que temem venha a acontecer do que pelo efetivamente acontece. Os tipos sintetizam a época: o primo que fracassa como idealista e é bem-sucedido como pária criminoso, o tio corrupto, a tia oportunista, o pai íntegro e sem horizontes. Uma família judia banal, onde os judeus são expostos como frágeis, mesquinhos e... americanos. Judaísmo e americanismo se fundem em um equilibrado american-jewish way-of-life, deixando claro o despropósito da divisão de uma população em fatias e em guetos – virtuais ou não. O discurso multirracial soa convincente e o texto do autor é sedutor, dono que é da virtude rara de nos mostrar o mundo com os olhos ingênuos – e, não raro, cruéis - da infância.Companhia das Letras, 488 pgs
0 comentários: