"Adoniram, uma biografia", por Celso de Campos Jr.

segunda-feira, junho 13, 2011 Sidney Puterman

Os mitos, não raro, ganham densidade quando descemos às minúcias da sua intimidade e trajetória; outras vezes se esfarelam e se revelam menores do que o imaginado. No caso do compositor paulista João Rubinato, de nome artístico Adoniram Barbosa, a mais adequada é a segunda opção. Fosse o biógrafo menos meticuloso quanto aos números de série de cada “bolacha” gravada e mais crítico quanto à personalidade do biografado, e teríamos um panorama mais rico. Entretanto, não foi esse o caso e o que temos em suas 550 longas páginas é um personagem simplório, “pidão”, de brilho limitado aos sketches humorísticos do rádio e composições peculiares. Há que se contentar com a exibição da persona pública em recortes de publicações, sempre medíocres, comprometidas em fazer “escada” para os artistas em voga. Campos Jr., com seu texto comportado, fez uma metódica pesquisa nos arquivos disponíveis, mas pula todas as etapas determinantes para o entendimento do biografado, como suas nebulosas relações familiares (os pais, a quem sempre iludia - e reticentes quanto ao seu futuro -, sumiram de cena quando o candidato a artista se mudou para São Paulo; já a filha do primeiro casamento foi ignorada pelo pai, não refeito da perfídia da esposa que o traiu e abandonou, situação não aprofundada). Quem foi o verdadeiro Adoniram? os que cogitam ler o livro para descobrir, melhor será que procurem a resposta noutro lugar. Aqui o que se tem em verdade é uma extensa descrição do rádio paulistano das décadas de 30 a 50, com ênfase em um dos seus principais radio-atores. Para quem aprecia, um prato cheio. Eu prefiro ficar com o mito Adoniram que antes da leitura me fascinava. Era maior. E que na minha memória afetiva permanece irresistível.

Editora Globo, 550 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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