"Pilatos", por Carlos Heitor Cony
Tal como em “A Metamorfose”, de Kafka, o fato absurdo e, portanto, inusitado, que conduz a narrativa nos é apresentado logo nas primeiras páginas, flagrando o personagem principal na cama (embora Gregor Samsa seja mais rápido e nos revele seu segredo já na primeira linha): o protagonista acorda capado, com o pau em sua cabeceira, em um vidro de compota. A situação surreal dá margem a que o autor nos mostre a agudeza do seu texto sarcástico. Em um instante em que o país vivia amordaçado pela ditadura, o autor satiriza o Estado policialesco e burro que nos governava (policialesco deixou de ser, já burro...), não poupando ninguém, à direita ou à esquerda, além de uma indisfarçada predileção pelo clero. O argumento perde consistência, mas é suportado por um texto quase sempre brilhante. A contrariar, a contracapa da quinta edição, em que Otto Maria Carpeaux considera a obra originalíssima – mas o fato é que quem leu Campos de Carvalho não irá estranhar forma e conteúdo.
Companhia das Letras, 219 pgs
Quero muito ler esse livro para ver se consigo relacionar o pau capado ao Estado policialesco... hahaha
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