"Nas mãos dos juízes", por Guilherme Bravo
O título se refere justamente ao lugar onde os lutadores derrotados por pontos dizem que não querem deixar suas lutas: "nas mãos dos juízes". Isso já dá uma medida do terror. Nada mais frustrante para um lutador - que acha que fez o suficiente para vencer - do que escutar, ao fim da luta, o annoucer proclamar o adversário como vencedor. E o pior de tudo é que isso é para lá de freqüente. Não era para ser assim, mas acontece praticamente em todo evento de MMA: uma ou mais das lutas decididas por pontos parecem ter prejudicado alguém. Não se trata aqui de complô ou de desonestidade - é que, em boa parte das vezes, a pontuação não premia aquele(a) que foi melhor em cima do octógono. E isto se dá por um motivo simples: o sistema de pontuação é falho. Só isso. A tal ponto, que se tornou comum Dana White - o "dono" do principal evento de MMA do mundo, o UFC - criticar a decisão tomada pelos jurados. No evento deste sábado passado, 11 de julho, na "Ilha da Luta", não foi diferente. Uma das três disputas de cinturão programadas, a revanche entre o ex-campeão, o havaiano Max Holloway, e o atual detentor do título, o australiano Alexander Volkanovski, teve um vencedor evidente: o ex-campeão. Mas, para dois dos três juízes, não foi isto o que aconteceu. Para os jurados Mark Collett e Clemens Werner, quem ganhou foi o australiano. "A luta foi mal julgada. Nenhum jornalista achou que Volkanovski venceu", bradou publicamente Dana White. Nisto você pode pensar: bem, os jornalistas não são sujeitos especializados em avaliar lutas, e os juízes sim. É um raciocínio que faz sentido. Os juízes são os técnicos na matéria. Mas a questão talvez não seja tão óbvia e a resposta pode ser outra. Público e jurados estão na verdade observando coisas diferentes: fiéis às regras, os juízes, circunscritos a uma fórmula científica de julgamento, somam uma quantidade matemática de golpes aterrissados em cada trecho de luta (os rounds) para definir o vencedor dos rounds e, como consequência, o vencedor da luta. Por outro lado, entretanto, o público, os jornalistas e os lutadores julgam quem meteu a porrada em quem. Simples assim. No big deal, diria Dana. Paciência. Justamente por me frustrar seguidamente com o resultado de lutas que vão para a decisão dos juízes - que é a arena onde são decididas a maioria das lutas no MMA -, achei oportuna a leitura de "Nas mãos dos juízes", um livro de regras e posturas do esporte, escrito e comentado por um experiente juiz brasileiro, Guilherme Bravo. O autor fez cursos com dois dos maiores árbitros da história do MMA, Herb Dean e John MacCarthy. Bem acompanhado ele está. Com este aval, imaginava que no livro iria encontrar respostas para a minha insatisfação como espectador. Um código de normas que evitasse uma visão tendenciosa. Porque, seja sentado confortavelmente no sofá, seja na beira da jaula, tomado pelo calor da refrega muitas vezes você vê aquilo que você quer ver. E os juízes estão ali justamente para definir quem de fato merece ser eleito o ganhador da luta, caso nenhum dos dois nocauteie ou finalize o outro. É não só um julgamento difícil, mas que requer a mais estrita imparcialidade. E, com a expertise dos juízes, a decisão de qual dos dois contendores será o "vencedor por pontos" se baseia no somatório de golpes e quedas, na percepção de contundência, na avaliação de danos, no domínio da área de luta e uma série de outros pormenores. São tão variados os itens a observar e contabilizar, que esta objetividade minuciosa acaba se transformando em... subjetividade. Como exigir que o juiz veja tudo isso, do rés do chão? É mesmo difícil, a área de luta é grande, o árbitro entra na frente. Mesmo in loco, há que se recorrer aos monitores. Ossos (às vezes quebrados) do ofício. Mas, por outro lado, avaliar performance sem ter um critério muito bem definido no qual se apoiar também é complicado. Este raciocínio se aplica a qualquer casca-grossa. Um bom exemplo é a orientação dos treinadores, neste mesmo evento de Abu Dhabi. No intervalo do segundo para o terceiro round do combate entre o brasileiro Elizeu Capoeira Zaleski e o russo Muslim Salikhov, o corner do lutador informou seu atleta: "Você venceu os dois rounds." O problema é que ambos os corners disseram a mesma coisa para os seus atletas. Você pode cogitar que os treinadores falaram isso para "motivar" seu lutador. Não procede. Qualquer lutador, escutando do seu corner que ele venceu os dois primeiros rounds de uma luta encardida, vai tirar o pé do acelerador e cozinhar o galo. Tudo o que ele quer a partir daí é que os cinco minutos do último round se limitem à monotonia da ausência de riscos, para ele embolsar o bônus pela vitória, uma eventual subida no ranking e a possibilidade de negociar um cascalho maior para a luta seguinte. Não esqueçamos que quem quer show é o público. O atleta quer é garantir o leite das crianças. É esporte e espetáculo, para quem assiste, e mais um árduo dia de trabalho, para quem está lá dentro. E para a gente não esquecer como a avaliação de uma luta é carregada de subjetividade, veja que, nesta que citei há pouco, estava todo mundo errado. Porque, ao fim, nem os juízes concordaram entre si: Bosaki deu 3x0 para o russo, Lethaby deu 2x1 para o brasileiro e Werner deu 2x1 para o russo. Eu, que vi a luta para o Capoeira, ficaria com Lethaby (o único que, mais tarde, iria enxergar a vitória de Holloway no co-main event). O paranaense e o daguestanês fizeram mesmo uma luta parelha, difícil de pontuar. Talvez o grande desafio esteja justamente aí: ao invés de ver a luta com seus olhos experientes e informar quem ganhou a luta, o juiz-contador tem que pontuar a performance dos atletas. Querer colocar uma ordem aritmética em um encontro que é uma grande porradaria entre dois sujeitos profissionais na arte de bater nos outros - e também especialistas no quesito aguentar levar porrada - é osso duro de roer. É justamente desta amarga quantificação que trata o livro de Guilherme Bravo. Quantos pontos merece cada lutador ao fim de cada round de luta. Para ter uma noção do barulho, veja por você mesmo. De acordo com o livro, há três critérios de pontuação, sendo que o primeiro, "Striking e Grappling efetivo" define a luta. Os outros dois critérios, "agressão efetiva" e "controle da área de luta", somente se o Striking/Grappling efetivo forem iguais, ou inexistente, o segundo critério (agressão efetiva) deve ser utilizado na pontuação. Sinalizei como no livro: em bold e em itálico. Mantendo o português pouco claro do texto publicado. Em seguida, diz que o terceiro "critério", controle da área de luta, "somente caso ainda não houver vantagem baseado nos dois primeiros". Êpa rei: são três critérios ou apenas um ("Striking e Grappling efetivo"), com os demais servindo como desempate? Me perdi. É que, além da redação confusa, o conteúdo também é confuso. Diz ainda que um golpe bloqueado "não conta" e que "apenas nos casos em que o lutador estiver visivelmente danificado através da sua defesa, o golpe pode ser pontuado" (lembro que a gramática e pontuação das frases entre aspas são copiadas do livro). Diz também que as tentativas de finalização são pontuadas e que há a figura do agressor recuante. Sobre isso, o livro exemplifica com o carateca paraense Lyoto Machida. Menciona ainda que, a título de opinião dos autores do livro, "o lutador que tem o controle da ação é o agressor, então, por essa razão, acreditamos que o controle da área de luta deve pesar mais nos critérios de pontuação do que agressão pura". Respeito a opinião dos autores, mas, se na página 26 os autores me informam que o controle é o terceiro ponto a ser considerado e na página 29 dizem que o controle deve pesar mais do que o segundo ponto, eu já não sei o que eles acham, nem qual deve ser a regra. Para quem se manteve interessado até aqui, e gosta do tema, outro item do livro que gostaria de destacar é o capítulo denominado "Dano". Ele já abre assim: "Pressão não é dano. Dano é a quantidade de ferimentos causados por um ataque legal sucedido que fere o oponente. (O dano) precisa ser medido de duas maneiras: a força do ataque e como isso afeta a condição do oponente." Bravo prossegue: "Para analisar os cortes, é preciso ver como ele acontece, para pontuar corretamente. Se for um golpe legal, como uma cotovelada que inflige o corte, ele precisa ser pontuado mais que uma simples cotovelada que não cortou." Eu concordo, até porque, indo no popular, um sujeito que fica com a cara estragada depois de uma luta deixa bem claro que o tempo fechou para ele (embora alguns juízes não concordem com esta minha tese e consigam habilmente encontrar uma forma sofisticada de calcular os pontos, cujo resultado final involuntário é fazer com que o sujeito que acabou a luta sem um corte sequer perca o confronto para alguém que precisou ser todo costurado). Mas as singularidades não param por aí. Há sistemas de contagem que vão no detalhe do detalhe. Como o Fight Meter, criado pelo próprio autor do livro, Guilherme Bravo, e que emula a barra de saúde do jogo eletrônico "Street Fighter II" (não conheço, mas faço uma vaga ideia), onde "um sistema mede a quantidade de dano absorvido de cada ataque". Ainda nos termos do autor, no sistema que denominou como Fight Meter, "cada ataque tinha que ser caracterizado baseado na força por trás do golpe e o volume importava tanto quanto o poder em como isso afetava a condição do oponente." Bravo explica que os golpes e quedas são medidos "por seu grau de força (leve, média ou dura) e como isso afeta a condição do oponente". Posso me estender um pouco mais? O autor relaciona outras formas de medição de performance, como o Sistema de Moedas ("o valor de cada golpe ou técnica efetiva de Grappling pode ser medido usando moedas de um, cinco, dez, vinte e cinco, cinquenta, um real e moedas especiais para knockdowns"), onde ele deposita moedas no pote de cada lutador à medida em que os golpes acontecem - ao fim do round, o lutador mais "rico" leva os pontos. Bravo menciona ainda o "sistema da régua", que une os métodos Fighter Meter e Sistema de Moedas, e também o Sistema de Fita Métrica, que ele considera "o melhor de todos os sistemas juntos". Para sua aplicação, "você pode seguir a ação dos lutadores passo a passo, estendendo apenas a fita métrica após uma ação sucedida". Como ele explica, "se um lutador consegue derrubar um oponente, a fita métrica será estendida apropriadamente, mas depois travada no lugar". Como podemos ver, diversas formas de medição do volume e da contundência das ações pode ser utilizada pelos juízes. Inclusive os golpes, isoladamente, podem ter uma tabela dedicada de pontuação. O autor menciona a metodologia utilizada por Big John McCarthy, que pontua os knockdowns de 1 a 5. Na parte específica do livro que disserta sobre knockdowns, queixo de vidro (sério) e fadiga, Guilherme explicita: "Um lutador pode atingir a exaustão e fadiga buscando terminar rápido uma luta e acabar sofrendo um knockdown por isso ao final do round. Seria, então, um indicador de que a fadiga foi decisiva para o knockdown, e deve-se assim ser avaliado de acordo. Um golpe que esvazia a barra de resistência (estâmina) do adversário e gera um knockdown tem mais força e valor do que um golpe em um lutador já fatigado com baixa resistência (estâmina) que gera um knockdown." Entendeu? Por este critério, o juiz deve pontuar menos um golpe perfeito em um lutador já cansado do que o mesmo golpe no lutador ainda inteiro. Eu entendi, mas não quer dizer que concordei. É no capítulo "Pontuação 10-point must system", entretanto, que fica claro porque os critérios do manual, por mais acurados que sejam, habitam um ambiente hipotético, não praticado na vida real. Bravo explica como devem ser considerados os rounds com pontuação 10-9 (nas versões "round" disputado, moderado e claro), 10-8 (uma quantidade avassaladora de dano ou de domínio) e 10-7 (domínio esmagador, com superação total do oponente). OK. Bonito. Ocorre que, nos eventos, NINGUÉM dá 10-8 em um dos rounds de uma luta parelha!!! Na prática, os juízes só dão 10-8 em lutas em que é totalmente desnecessário dar 10-8, porque geralmente os outros rounds já são 10-9, ou 10-8, também para o mesmo lutador. Com isso, esta pontuação com dois pontos de margem, que seria decisiva, só é aplicada quando é irrelevante, o que é um contrassenso. O 10-8, na quase totalidade dos casos, só serve mesmo como autenticação de um massacre. A essencial contagem de 10-8 simplesmente não é marcada, ponto. Seria extremamente útil sua adoção real, mas, parece, há um acordo silencioso entre os juízes de que essa pontuação só é dada em caso de extrema-unção. Confesso que toda a minha curiosidade pela forma com que uma luta é julgada e pontuada, pelos juízes profissionais, desaba, nocauteada, com a constatação de que há um milhão de elementos a serem classificados, avaliados e pontuados, e que o numeral que transforma toda esta contabilidade em pontuação efetiva não reflete o que aconteceu em cima do octógono. E, apesar de apoplético pela resistência dos juízes em aplicar o que está disposto nos manuais, ainda acho que, por si só, a efetivação prática do 10-8 seria apenas uma parte da solução. Eu adoraria que outras ferramentas de julgamento fossem desenvolvidas especialmente para as lutas de MMA, que têm uma dinâmica diferente das lutas de boxe - da qual naturalmente tomaram emprestados os procedimentos, em seu início, mas que os mantêm injustificadamente inalterados até hoje. O MMA, de maneira idêntica ao boxe, coloca três árbitros para decidir qual lutador venceu cada round; mas, por outro lado, os rounds no MMA têm quase o dobro da duração do que no boxe (três minutos versus cinco minutos), com um teatro operacional muito mais diversificado, que não só se estende por mais tempo, com mais alternâncias de dominação, como também com um arsenal de ataque e evasão muito mais amplo. Outra diferença crucial entre boxe e MMA é a quantidade de assaltos (doze contra três rounds, na maioria das lutas, ou, excepcionalmente, cinco rounds, nos main events). Os rounds mais curtos e em quantidade maior, no boxe, tendem a sedimentar um padrão, à medida que a luta se alonga. Assim, a forma já clássica de julgamento, com 3 juízes opinando sobre quem venceu cada um de 12 rounds curtos, tem a propensão da convergência. Se eles divergirem em três ou quatro rounds, mas convergirem em oito a nove deles, a divergência se diluirá e não influenciará na determinação do vencedor da peleja. Já no MMA, não só cada round é mais complexo e multifacetado, como são só três rounds, ou seja, o atual sistema de julgamento é um apelo à discordância - e, no que é mais danoso, à injustiça. Por isso, estou sempre na expectativa de que novos caminhos sejam cogitados. Se a contagem no boxe se resume a somar jabs, cruzados, diretos e uppercuts, na cabeça ou no corpo, e eventualmente temperados com um bom jogo de pernas, no MMA as possibilidades são multiplicadas por dez. Esta adoção de uma mera contagem talvez não seja suficiente - se fosse, não seria tão comum os três juízes verem cada um deles três lutas diferentes, como no caso de Capoeira e Salikhov. Ou chegarem a resultados contraditórios, entre si (dois contra um), mas totalmente inadequados, segundo os demais que assistiram (dois contra todos, no caso). Veja que, nesta luta entre Volkanovski e Holloway, um único jurado se torna, na prática, o voto de minerva, pelo voto discordante em um único round, em um grupo de três. É um peso excessivo de opinião (ou de contagem). No mesmo evento, uma luta entre ex-campeãs, a norte-americana Rose Namajunas e a brasileira Jessica Andrade, trouxe mais pimenta a esta minha inconformação. As duas estavam realizando uma revanche. O boxe extremamente técnico de Namajunas contra a enorme força bruta de Andrade (potencializada pelo upgrade que a brasileira trouxe para a sua técnica de boxe, uma intensa movimentação de cabeça, arma que ela antes não possuía). A luta foi eleita a melhor da noite. Durante dois rounds de cinco minutos, a norte-americana, surpresa, tentou achar a brasileira, sendo raramente bem sucedida; por outro lado, a brasileira, se esquivando bem e soltando golpes fortes, achou menos ainda a adversária. Saíram ambas incólumes dos dois rounds iniciais. Pequena vantagem para Rose, que tocou mais. Veio o terceiro e último round e Jessica achou a americana, estragando a cara dela com violência. Nariz quebrado, um olho fechado e a cara empapada de sangue. Sob o peso da saraivada de golpes, a inteligente Rose fugiu do combate franco o quanto pôde, dentro do octógono, para evitar ser novamente nocauteada. Luta terminada. Quem acompanhou o desdobramento da luta viu a Jessica desenrolar e meter a porrada na Rose. Hummmm... não na contagem de golpes da papeleta. Para os juízes, a vencedora foi a norte-americana. Venceu os dois primeiros rounds e perdeu o terceiro. Ué, mas se estavam ambas com a cara intacta após dois rounds, e no terceiro round a baixinha transfigurou a fisionomia da careca em uma personagem de terror do videoclip Thriller, de Michael Jackson, isso aí não era um 10-8, seu juiz? Na-na-ni-na-não. O "10-8" que o livro de Bravo determina, e ao qual me referi à existência fantasmagórica acima, é só isso mesmo, uma alma penada que ninguém vê, nem crê na existência. E seria de tão simples aplicação. Conceitos simples se imporiam sobre a atual retórica de boxe amador. Senão, vejamos. Supremacia técnica ou de contundência de um lutador sobre outro: 10-9. Um lutador mete a porrada no outro, persegue, acua, faz o outro fugir da briga: 10-8. Mais nada. Só isso, sem mais frescuras (com esta pontuação na prática restrita a 10-9 e com somente 3 juízes, o que não falta é combate em que o lutador fujão acabou vencedor na avaliação dos jurados). Sem intrincados sistemas de pontuação, com a pretensão de registrar cada ínfimo movimento. Porque, ao fim de tudo, esta minimalização excessiva na medição de performances leva a distorções na avaliação, que são evitáveis a olho nu. E ainda digo mais: em uma luta de três rounds, se o resultado der empate, deveria vencer quem venceu o terceiro round. Este valor minerva dado ao último round aproxima o resultado da luta do resultado real. Significa que, se a luta continuasse, a tendência é que o vencedor do terceiro round tivesse mais chances de subjugar o adversário. E a valorização do terceiro round ainda traria mais atratividade para o round final da luta, evitando que ela terminasse morna, o que não é raro acontecer, quando um lutador crê que fez o suficiente para vencer os dois primeiros rounds por uma pequena margem. Evita cera e aquela bola atrasada para o goleiro, que até os anos 80 valia no futebol. E, mais: porque não termos, em certas lutas, minimamente nos main-events, cinco juízes, ao invés de três? Acho que são modificações operacionalmente simples, passíveis de aplicação imediata, e com um grande potencial de benefício. Voltando à luta que ilustra este post, da Rose Namajunas contra a Jessica Andrade, e utilizando a pontuação sugerida, teríamos um mais equilibrado 28x28, com uma vitória da Jessica por ter vencido o último round. Tá bom, você pode dizer que eu fiz de tudo para encontrar um meio de dar a vitória à nossa valente e briosa guerreira tupiniquim. Pode ser. Mas se você der um olhar na fisionomia das duas lutadoras após a luta (foto pequena acima), você vai entender que minha argumentação não é parcial. Jessica, sem um arranhão. Rose, estourada. Dá para perceber que teve algo de errado na decisão. E lembrando, por último, que o impacto de uma decisão equivocada é monstruoso. Um lutador que investe meio ano da sua carreira em treinamento árduo (e não remunerado) está apostando tudo na sua vitória em parcos 15 minutos de combate, com grande chance de ter seu destino decidido por três pessoas supostamente municiadas para fazer o julgamento correto - o que muitas vezes não acontece, como vimos. Tanto isto é verdade que já assisti dezenas de vezes um lutador que sabia que perdeu a luta (ou seja, ele, na posição de subjugado, tinha a noção clara que tinha sido derrotado) ficar estupefato com a decisão dos juízes. Já vi "vencedores" honestos balançarem a cabeça, desaprovando a decisão dos juízes, e consolando o "perdedor". Só isto já exemplifica o quão inadequada pode ser a avaliação dos três profissionais de julgamento de luta (voltando à luta de Zaleski vs Salikhov, na qual, mesmo contando os golpes, cada um dos três juízes teve uma contagem diferente, o próprio Salikhov, na entrevista pós-luta, elogiou o derrotado, confessando ter sido pego no primeiro round e chamando-o de top contender... para bom entendedor, meio elogio basta: ele sabe que a vitória caiu no colo dele). Bem, é isso. Por paixão, me estendi. Fico na expectativa de que o MMA encontre em breve uma forma mais equânime de pontuar as lutas que vão para a avaliação dos juízes. O aumento imediato do número de juízes pode ter impacto decisivo. Que, ao invés de três jurados, sejam cinco. Mais emprego para os especializados na matéria e mais peso no resultado final. O esporte e o espetáculo só têm a ganhar. Obrigado ao profissional Guilherme Bravo pelo interesse e dedicação em escrever seu livro, o que comprova a sua seriedade e o seu altíssimo grau de envolvimento com o esporte. O livro de Guilherme Bravo é mais um degrau para o aperfeiçoamento do MMA.PVT Editora, 160 páginas
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