"Nada a invejar", por Barbara Demick

terça-feira, julho 07, 2020 Sidney Puterman





Semana passada fez 70 anos que estourou a guerra das Coreias. Divididas após a Segunda Guerra Mundial, a metade de cima, o Norte, ficou sob o guarda-chuva russo. A metade de baixo ficou com os capitalistas de direita. Nessa brincadeira, o país foi cortado ao meio como uma laranja, em um acerto pacífico que durou pouco. Em 25 de junho de 1950, enquanto no Maracanã a Inglaterra vencia o Chile por 2x0 (na primeira Copa do Mundo do pós-guerra), o exército norte-coreano subiu nos tanques soviéticos, cruzou a fronteira e invadiu o Sul. Tomou, fácil, a capital do novo vizinho.

Foi preciso chegar setembro para o apoio militar dos Estados Unidos e da ONU retomar Seul, com o desembarque de 40.000 soldados empurrando as tropas invasoras para além da linha demarcatória original. Em menos de um mês, a China comunista enviou 200.000 soldados para ajudar os norte-coreanos, empatando o jogo. O conflito se estendeu por três anos. Apesar do tanto de sangue derramado, a fronteira se manteve inamovível. As duas Coreias continuaram divididas pelo paralelo 38, com 250 quilômetros de arame farpado. Tudo ficou como já estava antes da guerra.

Morreram nisso um milhão de coreanos. No fim dos anos 50, a Coreia do Norte tinha se tornado um dos estados mais fechados do mundo, em um planeta rachado pela Guerra Fria.

Se tudo isso soa anacrônico para você, que sabe que há décadas tem McDonald's em Moscou e que o muro de Berlim foi vendido em caquinhos coloridos, não é assim para os 25 milhões de habitantes da parte norte da península coreana. É um povo ilhado no tempo. Quem está dentro não sai e quem está fora não entra (ressalvando-se que, nas relações estratégicas e comerciais necessárias, os visitantes entram, mas ficam sob vigilância severa).

Com o passar dos anos, o governo local se esforçou, mas não conseguiu manter inviolável o biombo que lançava mistério sobre o país: no novo milênio, dezenas de livros pipocaram mundo afora descrevendo as vísceras da Coreia do Norte. Alguns publicaram estatísticas calçadas nas mais variadas fontes, outros dissecaram a história, a política externa, os campos de prisioneiros, a infra-estrutura etc. Já li bons volumes sobre estes dois últimos. O resultado foi que a cada vez me interessei mais em saber sobre o que havia de oculto sob o cobertor do regime.

Este "Nada a invejar", premiado trabalho de Barbara Demick (que foi chefe da sucursal do Los Angeles Times em Pequim por mais de 15 anos), traz o testemunho dos refugiados. Os que fugiram revelam as condições de vida que enfrentavam no país. A autora, que esteve nove vezes na Coreia do Norte, entrevistou mais de 100 fugitivos para a apuração do livro. Atente que os "fugitivos" a que me refiro são pessoas normais. Gente como eu e você. Demick selecionou algumas delas - uma professora, um estudante, uma médica, um jovem desempregado, uma dona de casa de meia idade etc -, para representarem o cotidiano da gente comum na Coreia do Norte.

O livro, lançado em 2010, narra a rotina de vida destes habitantes comuns. Embora recue e avance no tempo, seu ponto de partida é a década de 90, pico da epidemia de fome no país. Então a União Soviética já não mais existia e a China tinha uma penca dos seus próprios problemas para resolver.

À época, sem dinheiro e recursos de fora, o sistema como um todo colapsou. A Coreia do Norte sofreu um apagão. Não havia energia elétrica. A indústria do país foi canibalizada. As máquinas foram ilegalmente vendidas como ferro-velho. Os trens pararam de circular. Não havia aquecimento para enfrentar o inverno congelante (que descia muito abaixo de zero). Os funcionários das fábricas estatais - a iniciativa privada é ilegal no país - venderam o que havia dentro delas. Não havia trabalho ou dinheiro. Os salários deixaram de ser pagos pelo governo. A única remuneração eram os vales para alimentos. Mas os mercados oficiais não tinham alimentos a serem trocados pelos vales.

Além da falta de comida, da falta de trabalho, da falta de dinheiro e da falta de serviços básicos, havia a falta de liberdade. Não era (e não é) permitido a um norte-coreano sair da sua cidade sem uma autorização oficial. Mesmo dentro da sua própria cidade, a circulação era restrita. Quem for surpreendido sem a documentação requerida está sujeito a ser preso. Quem é preso está sujeito a não recuperar a liberdade. A polícia e o Estado não prestam informações sobre suspeitos detidos. Quem buscar informação sobre um parente preso está sujeito a ser detido.

Se você assistiu "O Show de Truman", tem nele uma boa metáfora para a Coreia do Norte, só que com lentes invertidas. Se no filme um mundo perfeito era artificialmente mantido para entreter o personagem de Jim Carrey, na Coreia do Norte um mundo de fome, penúria e opressão era oferecido como se fosse perfeito.

Pior é que o cidadão norte-coreano confiava cegamente - ou quase - nesta versão heroica da sua nação (ainda que contrária a tudo o que ele via ao redor). Contavam a ele, desde a sua tenra infância, que, aos sete anos, seu precoce Grande Líder pegou em armas para derrotar o Japão imperialista. E que aos treze anos ele comandou o exército à vitória contra os norte-americanos sanguinários.

Desde então, graças a Kim Il-sung, a Coreia do Norte era o paraíso na terra. Pelo menos na narrativa estatal, que ninguém cogitava desmentir. Não era só uma questão de credulidade (muitos, em desespero, se suicidaram ao saber da morte do líder), mas também de bom-senso. Um raro cético flagrado tecendo um comentário pouco lisonjeiro ao líder ou ao governo - podia ser até mesmo um leve esgar de descrédito na fisionomia - estava sujeito à prisão, à execução ou, no mínimo, a receber uma advertência que equivalia a ter uma ficha suja vitalícia, onde qualquer oportunidade de melhora (como os filhos cursarem uma universidade, por exemplo) se tornaria proibida.

O livro cumpre sua missão de entregar matéria-prima sobre o frustrante e penoso dia-a-dia da família norte-coreana. E, melhor, a jornalista atinge seu propósito sem colocar em risco os familiares dos imigrantes que permaneceram em solo norte-coreano. Apesar do relato detalhado, os nomes são fictícios. E não somente eles dão substância ao texto. Os depoimentos são complementados por observação in loco e diversas outras fontes. É, decerto, uma reportagem que nos diz respeito. Os ambientes da vida comum norte-coreana se assemelham aos nossos: edifícios de apartamentos, escolas comunitárias, mercados populares etc. A grande diferença é como se vive dentro deles.

Bom exemplo dessa vida em comum lá deles é a saudável relação com os vizinhos. Como relata Demick, os norte-coreanos são organizados nos chamados inminban - literalmente, "grupos do povo" -, cooperativas de vinte famílias cuja tarefa é ficar de olho umas nas outras e controlar a vizinhança. Estes inminban têm um lider eleito, que relata qualquer coisa suspeita a autoridades superiores.

Quanto à ficha suja que mencionei acima, ela era uma condenação perpétua. "A única mobilidade no interior do sistemas de classes era para baixo; mesmo que você estivesse na classe central - reservada para parentes da família governante e quadros do partido - poderia ser rebaixado por mau comportamento", diz Barbara, que reforça: "Quem estivesse na classe hostil permaneceria nela para sempre. Qualquer que fosse sua mácula original, ela era permanente e imutável. O status familiar era hereditário. Os pecados do pai eram os pecados dos filhos e dos netos." Que beleza.

Vale a pena a gente abrir um parênteses sobre como o sistema educacional já despertava na garotada o amor pela humanidade. Os pequeninos cantavam no colégio desde cedo a popular "Tiros nos bastardos ianques": "Nossos inimigos são os bastardos americanos/ que estão tentando tomar nossa linda pátria/ Com armas que fiz com minhas mãos/ vou atirar neles: BANG, BANG, BANG".

A canção que homenageava os japoneses tinha uma inspiração bucólica: "Para onde viemos? viemos para a floresta/ para onde estamos indo? estamos indo para as montanhas/ o que vamos fazer? vamos matar os soldados japoneses!"

Não faltava fertilizante para adubar o entusiasmado sentimento infanto-juvenil. Cartilhas escolares de 2003 (que a jornalista encontrou em sebos na China) contam aos alunos como no passado as crianças eram queimadas com ácido ou atiradas em poços por missionários cristãos ou bastardos imperialistas norte-americanos. Um clássico da literatura infantil trazia a estória de um menino morto a pontapés por soldados ianques, por ter orgulhosamente se recusado a engraxar suas botas.

Nos bancos escolares, não escapava da ladainha belicosa sequer um banal aprendizado de subtração: "Uma garota está atuando como mensageira para nossas tropas durante a guerra contra a ocupação japonesa. Ela leva mensagens numa cesta com cinco maçãs, mas é detida por um soldado japonês que rouba duas maçãs. Quantas maçãs restaram?"

A fórmula para ensinar a divisão era tiro e queda: "Três soldados do Exército do Povo Coreano mataram trinta soldados americanos. Quantos soldados americanos cada um deles matou, se todos mataram um número igual de soldados inimigos?"

Mas, se por um lado o mundo dialético era rapidamente assimilado, por outro havia um gargalo cada vez mais estreito. Mesmo a matemática mais simples se tornava um intrincado quebra-cabeça para os alunos. Não por falta de capacidade. Mas por falta de comida.

As crianças não tinham o que comer em casa. Não havia comida nas famílias. Nas escolas também não. Nem nas fábricas, nem nos mercados oficiais. A pouca comida existente só era encontrada no mercado negro, onde poucos podiam pagar. A fome levava a população a perambular em busca de restos. A desnutrição impedia o desenvolvimento físico e mental. As professoras padeciam de fome, frio e falta de alunos. O Estado já não pagava salários aos professores e demais funcionários públicos. A remuneração, simbólica, se restringia a vales para compra de alimentos. Mas os vales eram meros pedaços de papel sem valor, porque não havia alimentos nos mercados oficiais.

Nesta catástrofe humanitária deliberada, as salas não tinham mais alunos. Como Barbara nos conta, crianças e adultos passavam os dias vagando, atrás de qualquer coisa que se mastigasse. É um país sem cachorros: foram todos comidos. Raspas de árvore eram aferventadas com água. Mães comiam e não alimentavam os filhos. Cadáveres de mortos pela fome eram retirados das ruas no início da manhã. Segundo o mais respeitado estudo sobre o tema, Famine in North Korea: Markets, Aid and Reform, 1 milhão de pessoas morreram de fome no país. Já de acordo com a mais alta autoridade norte-coreana a desertar, Hwamng Jang-yop, o número de mortos pode ter atingido 2,5 milhões.

A fome provocava evasão escolar e achatava o nível de compreensão dos alunos que insistiam em estudar. A falta de alimento atrofiava a juventude. Um estudo nutricional realizado por órgãos da ONU em 1998 constatou que 62% das crianças norte-coreanas tinham um desenvolvimento retardado. Cinco anos depois, a situação havia amenizado, mas permanecia uma tragédia geracional.

Um estudo feito pelo Programa Mundial de Alimentos e da Unicef descobriu que 42% das crianças do país sofriam da "síndrome do retardo": privadas de comida durante seu crescimento, suas pernas eram subdesenvolvidas e sua cabeça ficava grande demais para o corpo (quando não é devidamente nutrido, o corpo dirige seus recursos para a cabeça em detrimento dos membros).

Doloroso constatar que uma situação como esta tenha sido agravada pela ganância dos próprios conterrâneos. Milhares de toneladas de alimentos enviados pela ONU para o governo norte-coreano foram desviados para o mercado negro. Na mídia estatal a ajuda internacional não era mencionada. No discurso oficial, a fome era consequência do ataque imperialista. Somente uns raros cidadãos corajosos que desbloqueavam suas TVs e sintonizavam nas emissoras sul-coreanas (sob risco de prisão e execução) sabiam da ajuda. Eles eram um dos poucos capazes de entender porque aqueles sacos de mantimentos, nas feiras não-autorizadas (mas toleradas), ostentavam a logomarca da ONU.

Novo parênteses: hoje no Brasil vemos gente oportunista - políticos, autoridades, empresários, diretores de hospital, bandidos de ocasião - desviando dinheiro público na compra de respiradores ineficazes e montando hospitais de campanha que jamais serão usados. Comparável - ou não? - com os norte-coreanos que vendiam os donativos da ONU, ao invés de distribuí-los de graça, como doação internacional que eram. A Covid-19 revela muitas coreias do norte dentro de cada sociedade.

Voltando às Coreias reais, há hoje uma diferença média de altura de 15cm entre um norte-coreano e um sul-coreano. Um trecho do livro "The Two Koreas", de Don Oberdorfer, ilustra bem as consequências sociais da desproporção. Conta que dois diminutos soldados norte-coreanos, com 19 e 23 anos, foram arrastados acidentalmente para águas sul-coreanas. Resgatados, foi ouvida uma conversa entre eles no hospital militar, em que diziam que nunca se casariam com uma sul-coreana porque "elas são grandes demais para nós". Os soldados foram mandados de volta à Coréia do Norte. A pedido dos próprios.

A estória, se non é vera, é ben trovata. E nem tão inusitada assim. Quase meio século após o fim da guerra, em 1998, apenas 923 norte-coreanos tinham conseguido fugir para a Coreia do Sul. Paradoxalmente, muitos deles desejavam retornar ao seu país-cárcere. Cedo ou tarde se davam conta que sua defasagem pessoal era irreversível. Estavam fadados a uma existência inferior, seja acima ou abaixo do paralelo 38. As origens ancestrais eram as mesmas; mas a bagagem individual e a realidade recente dos habitantes das duas Coreias os posicionavam em extremidades inconciliáveis. Em sociedades competitivas como as do sudoeste asiático, a situação era intolerável.

Pelo dito, eu recomendo o livro. É sóbrio e preciso, sem arroubos ideológicos ou arengação anti-comunista. Revela a devoção dos cidadãos pelo seu líder. Conta como Kim Il-sung (cujos pés você vê na capa do livro acima, sobre o pedestal) era apaixonadamente reverenciado. Em um país sem fé ou religião, Kim Il-sung ocupa o lugar que na civilização cristã-ocidental é ocupado pelo próprio Cristo (o qual, a propósito, é absolutamente desconhecido da população coreana). Todos sabiam que o Grande Líder fez da Coreia do Norte o mais próspero país do mundo. Isso é o que importa. Por isso, quando ele morreu, houve quem tivesse parado de comer, tamanha era a tristeza.

Mas, como vimos acima, nada como outra fome, a involuntária, para corroer a mais profunda adoração. Os apelos governamentais para que os coreanos comessem menos e trabalhassem mais surtiram efeito, mas os cidadãos continuaram morrendo de fome. E sem terra para plantar, sem a comida já racionada que havia sumido há muito dos mercados do governo, os coreanos mais ao norte, na região mais miserável do país, começaram a fugir.

No final dos anos 90, no nordeste do país, onde a fronteira com a China era definida pelo rio Musan - que, na baixa, em certas regiões do ano, é possível de ser vadeado a pé -, o contrabando e a fuga se tornaram atividades corriqueiras. O primeiro era pouco combatido (os guardas que deveriam combatê-lo eram facilmente subornáveis em troca de uma batata) e o segundo só não se tornava maior porque a própria polícia chinesa caçava e deportava desertores norte-coreanos.

Sequer a embaixada da Coreia do Sul os aceitava, evitando um acirramento das sempre tensas relações diplomáticas entre as duas metades da Coreia.

Não obstante as muitas dificuldades operacionais, tudo se resolvia amigavelmente, desde que se pagasse a quantia certa. Havia uma tabela de preços que normatizava as fugas. A mais atribulada delas, uma fuga de terceira categoria, saía por 2 mil dólares. O pobre coitado "seguia pelo percurso China-Tailândia-Seul, com travessias traiçoeiras de rio, árduas caminhadas e várias semanas desgraçadas numa prisão tailandesa de imigração" (a Tailândia não deporta para a Coreia do Norte, mas mantém o refugiado preso enquanto a embaixada sul-coreana não finaliza os trâmites do pedido de asilo).

Porém, para quem tinha recursos (normalmente vindos de parentes residentes na China, no Japão ou na Coreia do Sul), havia disponível na prateleira uma fuga padrão VIP, cinco vezes mais cara - mas sem sobressaltos. Dependendo do agenciador e do nível de desespero, o preço poderia variar entre 10 a 20 mil dólares. O pacote incluía passaporte chinês falsificado e passagem aérea de Pequim a Seul. A operação reduzia ao mínimo as chances do fugitivo ser pego e deportado.

Com base no relato dos morte-coreanos que conseguiram emigrar, Barbara Demick narra o passado e o presente de dezenas de norte-coreanos comuns, como eu e você. O livro nos apresenta o desventurado cotidiano dos cidadãos normais desta que é a última ditadura semi-inexpugnável de origem comunista (a outra, a cubana, abandonou a inexpugnabilidade há muitos anos e hoje vive do turismo imperialista e do subsídio do petróleo venezuelano).

Embora seja um texto escrito há dez anos, sobre uma realidade que, às vezes, distava outros dez anos da própria apuração do livro, seu conteúdo não deve ser desprezado. Como uma estrela, da qual vemos a luz emitida há milênios como sua única representação física atual, este conhecimento rarefeito, em segunda mão, é o que temos, multiplicado por autores como Demick e dezenas de outros, astrônomos investigativos estudando as galáxias terrenas com seus telescópios potentes.

Há poucas semanas circulou o boato de que o neto de Kim Il-sung, Kim Jong-un, teria morrido. O boato foi palidamente desmentido, e não se sabe qual a real condição de saúde do Líder Supremo. Nem há o menor indício de que o regime esteja definhando. Seus cidadãos, aparentemente, permanecem condenados a viver dentro de um filme de terror exibido em looping. Já nós, à distância, assistimos cenas de uma comédia pastelão, com requintes de sadismo, sem data para acabar.

Se pudéssemos fazer um tour de drone pela capital do país, Pyongyang, poderíamos ao menos nos divertir com os malabarismos das guardas de trânsito orientando carros inexistentes nas avenidas desertas (no melhor estilo interagindo com ninguém do Bolsonaro, que há pouco soltou um vídeo conversando com cidadãos de mentirinha) e nos deliciarmos com os outdoors, que por toda parte proclamam em letras garrafais: "NADA TEMOS A INVEJAR DO MUNDO".

Companhia das Letras, 412 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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