"Cartoons of World War II", por Tony Husband

terça-feira, fevereiro 14, 2017 Sidney Puterman

Eu turistava na proa de um porta-aviões aposentado, ancorado no porto de Nova York. Um navio fenomenal: o Intrepid serviu no Pacífico em mais de uma guerra e hoje hospeda dezenas de atrações (o que inclui ele próprio). À saída, obrigatoriamente pela lojinha de souvenirs, em meio a quepes, bottons, camisetas e uma parafernália sem fim, dei de cara com uma preciosidade inesperada: uma coletânea de charges publicadas durante a Segunda Guerra Mundial, que circularam em países diretamente envolvidos no confronto. Eram cartuns americanos, ingleses, franceses, russos, alemães, italianos e japoneses, em ordem cronológica. Uau. Que achado. Porque, diferentemente de um relato descritivo, que tem compromisso com a informação - ampla, minuciosa, linear -, na redação dos jornais o desafio do cartunista é interpretar a principal notícia do dia. Para os pósteros, três quartos de século depois, esses quadrinhos são ricos como fósseis, de tal forma preservam o DNA da data de publicação. Sejam eles irreverentes, jocosos, piegas, manipuladores, ofensivos ou sabe-se lá o que mais, simultaneamente críticos e passionais, retratam a percepção de um dia específico. O material compilado por Husband é um festival de craques do traço. Por meio dele testemunhamos o distanciamento norte-americano na primeira fase da guerra - e o deboche ressentido dos ingleses frente a este não-envolvimento dos EUA (do outro lado, os alemães reforçavam que os americanos não tinham nada a ver com isto). O avanço do confronto e a ameaça nazista enfim confirmada. O ufanismo fatalista do III Reich e a platitude dos cidadãos ingleses diante dos bombardeios. A ocupação da Europa pelo exército alemão. A retirada aliada, a invasão russa, o desembarque. A reviravolta e a condenação do invasor. Os protagonistas dos cartuns eram Hitler, Churchill, Stalin, Roosevelt, Chamberlain, Goebbels, Himmler, Goering e Mussolini, coadjuvados por soldados idealizados e cidadãos inocentes. Os gênios da pena eram Zec, Fitzpatrick, Kukryniksy, Jordaan, Partridge, Pont, Berryman, Sennep, Low, Cheremnykh, Sheppard, Illingworth e outros que tais. A edição, enfim, é um registro incomparável de como cada nação lidou com a guerra iminente e depois sangrentamente deflagrada. Como diz a legenda sob um cemitério de cruzes e capacetes de todos os países, ao fim da guerra, em uma arte de Zec: "...And now let's learn to live together". Sei não, mas tomara. Bendita a hora que passei por aquela lojinha de bugigangas, típica armadilha consumista para turistas. O livraço gritou e eu o agarrei. Paguei $14.95 dólares dentro do navio, mas me parece que dá para achar mais barato na Amazon. Eu até sugiro. Porque o meu exemplar, vou logo avisando, eu não empresto e nem dou. Nem vem, que não tem.

Arcturus Publishing, 192 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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