"Uma viagem pelos países que não existem", por Guilherme Canever

terça-feira, fevereiro 07, 2017 Sidney Puterman

O livro é um espetinho misto de turismo e geopolítica, que a gente come até o fim, com prazer. O insight do viajante intimorato e turista profissional Guilherme Canever foi escrever sobre suas viagens aos países de reconhecimento político limitado, que não são aceitos oficialmente como países pela maior parte da comunidade internacional. Suas observações sobre cada destino visitado seguem um mesmo padrão expositivo e gráfico. Elas mesclam sugestões de roteiro e suas impressões pessoais, ilustradas com as fotos tiradas em cada local, ao lado dos seus anfitriões eventuais, e um resumo sócio-político tipo wikipedia. Coerente com este formato, a diagramação de almanaque não foi má ideia. O texto é suave, sucinto e agradável. Canever não se estende sobre nada, mas dá uma boa pincelada sobre como foi sua experiência em cada um dos fins-de-mundo em que se meteu. Não tem como não nos instigar a viajar mais (e para lugares mais imprevistos). Os que ele arrola neste livro são os desconhecidos Transnístria, Somalilândia, Sarauí, Chipre do Norte, Abecásia, Nagorno-Karabakh e Ossétia do Sul, somados a três figurinhas fáceis, uma no noticiário econômico, Taiwan, e duas no noticiário político, Kosovo e Palestina. Convém destacar aos desavisados que as viagens descritas por Canever não foram feitas agora, de enfiada, e sim ao longo dos últimos anos, em meio a outras viagens - o que lembra um pouco aqueles discos tipo coletâneas, que pegavam no acervo dos artistas produções antigas de LPs originais para montar um pacote comercial. Isto, entretanto, não desmerece o livro, que é bem sacado e curioso. Ao fim do relato dos países listados acima, ele cita outras viagens, feitas a destinos conturbados, regiões em disputa e outras destituídas da sua independência, geralmente expropriadas à força por Putin e pelo exército russo. É uma polaroide do mapa geopolítico e que nos espicaça a vontade de fugir dos roteiros triviais e por o pé na estrada (de preferência, de barro, bem poeirenta) em busca de um pouco de aventura. Mas, óbvio, jamais pensando em rivalizar, por um segundo que seja, com Guilherme Canever. Porque para este aventureiro não tem tempo feio, nem dia ruim. Ele topa todas.

Editora Pulp, 188 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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