"Pinga Fogo com Chico Xavier", por Saulo Gomes

quinta-feira, agosto 18, 2016 Sidney Puterman

É uma obra com um design e uma composição gráfica extremamente interessantes. Um cuidado desusado no nosso histórico editorial (nos últimos dez anos, uma larga fatia das publicações espíritas têm investido em capas de maior apelo visual, ainda que abusando dos clichês e do mundanismo). O livro em questão reproduz, fala a fala, duas edições do "Pinga Fogo", célebre atração da TV Tupi de São Paulo, no início da década de 70. Destaca a comoção nacional e a grande audiência obtidas com a presença de Chico Xavier no auditório da emissora. O maior nome do Espiritismo brasileiro foi reverenciado no decorrer das longas horas do espetáculo. A transcrição integral, entretanto, evidencia o superficialismo dos dois programas. Na leitura, percebe-se a indigência do conteúdo. Os diálogos são em sua imensa maioria vazios, destituídos de graça ou informação. E o título do programa ficaria melhor como "Rasga Seda". Atente que isso em nada diminui a grandeza de Chico Xavier e da Doutrina Espírita, dos quais sou, respectivamente, admirador e seguidor. Também não desmerece a importância do evento para a propagação e aceitação de uma fé que tornou mais tolerante e generosa uma pátria de milhões de fiéis. Não obstante, da mesma forma que o mais atraente livro lido ao vivo na TV se transformaria em um programa maçante, um show televisivo, transcrito em texto, não passa de um amontoado fútil de vaselina verbal e frases pobres. Ao fim, foi um projeto editorial que se prestou mais à apologia dos presentes do que ao registro relevante. As irritantes caixas de texto, em negrito vermelho, presentes nas margens laterais das páginas, com explicações redundantes, fazem do texto um pingue-pongue, induzindo os olhos do extenuado leitor para lá e para cá, sem nenhum proveito. O cuidado da impressão empolga o leitor com a promessa de um grande livro. Página a página, porém, o impacto inicial se esvanece. Um número menor de firulas gráficas e uma edição mais concisa teria feito mais por esta inegavelmente bonita publicação.

Editora InterVidas, 270 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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