"Comer animais", por Jonathan Safran Foer

sexta-feira, março 29, 2013 Sidney Puterman


Eu não como animais. Por que eu iria ler um livro sobre um sujeito que quer me convencer a não comer animais? Ora, se eu leio até bula de remédio e itinerário de lotação, razões não me faltam para lê-lo. Eu leio de um tudo. Então, sem problema ler apologia da alimentacão vegetariana. Até porque Foer tem um bom texto. Tem também uma boa história para contar, que ele transforma numa longa arengação contra o hábito de se comer os bichos. Ele faz um bom trabalho (podia tirar fora umas 50 páginas, que seu livro ficaria melhor). Da página 87 até umas cem páginas seguintes, temos o melhor da obra, com as invasões das granjas industriais e a repugnante descrição dos processos de matança. E é esse, na verdade, o ponto central do livro de Jonathan: a inevitável crueldade dos matadouros para atingir sua meta de produção de milhões de toneladas de carne barata. Perversidade existente não por sadismo (ainda que esse sadismo exista, com o autor afirmando existirem centenas de provas documentais disponíveis no YouTube), mas sim por conta do percentual de animais que sobrevive às etapas iniciais da linha de montagem da matança e segue vivo para a área de esfolamento e esquartejamento (nas duas últimas semanas, o Fantástico e a Veja denunciaram que 30% do gado abatido no Brasil não passa por inspeção sanitária, mortos com crueldade e armazenados sem higiene). Foer deixa claro que, para baratear a carne (cujo custo proporcional não pára de cair ao longo dos ultimos 100 anos), a sociedade fecha os olhos para a forma como esse “produto alimentício” é preparado. Li nos jornais que, somente para essa última edição do Superbowl, a estimativa é que os americanos tenham comido 6,5 milhões de asas de frango, equivalendo a 3,5 milhões de galinhas mortas (10% estimados de perdas é um número baixo) somente para suprir o ímpeto  gastronômico ao longo de 3 horas de transmissão. Tente imaginar como criar, acomodar, alimentar, cuidar, checar, matar, limpar, destrinchar, ferver, embalar e distribuir 1 milhão de galinhas por hora. Não dá pra fazer boa idéia de um processo desse porte - e é justamente esse o objetivo de Jonathan Foer: promover a conscientização coletiva de que esse negócio, no fundo, não funciona. A indústria da morte animal é criminosa. Hoje, Sexta-feira da Paixão, milhões de bichinhos ganharam um dia a mais de vida. É pouco. Foer quer muito mais, e seu instrumento para conseguir isso é seu livro, que deve proporcionar um bom nível de baixas carnívoras entre os que se predispõem a lê-lo – já eu modestamente me restringi a tentar induzir meu filho mais velho a fazê-lo, mas sem arrumar nada. Pobres galinhas.

Editora Rocco, 273 páginas

P.S.: Minha esposa me enviou o vídeo de um menininho que está bombando na web. A mãe tenta empurrar pra ele um nhoque de polvo. Ele argumenta como só alguém com 3 anos pode argumentar. E não come o bichinho. Segue o link: http://bit.ly/1555k6Z. Divirta-se. Comendo ou não os bichinhos.

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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