"La Doce", por Gustavo Grabia
A obra aborda, em minúcias, as relações criminosas entre as barras portenhas e a sociedade platina. Mas... você é argentino? Não? Então, esqueça. Porque esse livro sobre a famosa torcida do Boca Juniors é um livro para
argentinos. A profusão de nomes relacionados em suas denúncias não ficaria nada a dever à lista
telefônica de Buenos Aires. A cada nova página, uma dúzia de novos personagens
são citados – e onze não irão aparecer nunca mais. Juízes, policiais, repórteres,
dirigentes, quitandeiros, jogadores e hinchas vão e voltam, em um intrincado
prontuário criminal que é cuspido com a graça de um boletim de
ocorrência. Nessa barafunda
hermana, você já não identifica quem torce por quem, o que faz na estória e de
que lado está o gajo. Vi o autor, Gustavo Grabia, divulgando o livro no “Redação
SporTV” e levei fé. “Deve ser duca. A história criminosa da barra do Boca!” -
pensei, confiante. Dei com os burros nágua. É, sobretudo, a descrição pormenorizada de cada
confusão surpreendida pela polícia e pela mídia e no que resultou em
repercussão e condenações. Não é, sobretudo, uma visão abrangente – e sim um varejinho
onde todo amendoim vendido é contabilizado: quem vendeu, quem comprou e onde
enfiou. Se você não conhece ninguém e são duas centenas de amendoins, é chato
de acompanhar. Não sei pros argentinos. Pra mim, brasileiro, não prestou.
Embora deva dizer que ruim, ruim... bem, ruim o livro não é – não faltou ao autor nem pesquisa, nem
coragem. A leitura é oportuna e deixa um entendimento maior do panorama portenho, mas o fato é que entrega bem menos do
que você e eu esperaríamos encontrar, quando sentamos em nossa poltrona confortável para conhecer o submundo del fútbol. Pra quem quer conhecer a Argentina, vai ganhar mais colocando um LP de Gardel pra rodar na vitrola.
Panda Books, 185 páginas.
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