"Combate nas trevas", por Jacob Gorender
Livraço. Seco. Perfunctório. Sem desperdício de palavras, o
professor de História Jacob Gorender assina um livro sóbrio e agudo. Um guia
para entender a luta armada e os movimentos de esquerda no Brasil nas décadas de 60 e 70.
Uma enciclopédia sobre quem era quem na esquerda brasileira nos anos de chumbo
- colocando o acompanhamento das organizações em primeiro plano. Em um relato didático,
expõe o embasamento teórico que originou os grupos e sustentou ideologicamente
os que pegaram em armas contra o regime. O autor eleva a ação da esquerda que optou
pelo confronto armado a um outro patamar.
Ele sabe do que fala: Jacob Gorender é fundador do PCBR, provou do
pau-de-arara e puxou dois anos de cadeia no Tiradentes. Não obstante seu envolvimento pessoal (que o aproxima) e sua condição de historiador (que requer distanciamento), não se isenta de exprimir opiniões
contundentes sobre delatores e heróis, sobre equívocos e fracassos. Ainda que crítico e honesto, seu relato reforça em mim a convicção de que a luta armada no Brasil foi uma sucessão de bravatas, espasmos
e necrológios. Seu livro me esclareceu muito: sempre quis entender
aquela barafunda de siglas (MR-8, COLINA, VAR-Palmares etc) e a motivação
daquele pessoal alucinado que roubou bancos e implantou guerrilhas (agora sei que
eram focos) nos cafundós do País. Embora já tivesse lido outros autores, com o
livro de Gorender saí da ignorância chã – e percorri os intrincados mecanismos de crença, engajamento e lealdade. (O mercado editorial, nos últimos tempos, vem sendo pródigo no lançamento de novos títulos sobre o período. A sua, eu não sei. Mas a minha obrigação é ler.) Não mudei meu julgamento, por enquanto, sobre aquela luta de esparsos idealistas - que reuniu algumas dúzias de militantes apaixonados, de estudantes confusos, de trabalhadores revoltados, de fundamentalistas teóricos, de outros tanto indefinidos belicosos etc - contra um exército nacional. Porque, se você for ver, não tinha como aquilo dar certo. Não deu. Cambada
de malucos.
Editora Ática, 291 páginas
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