"Combate nas trevas", por Jacob Gorender

segunda-feira, dezembro 31, 2012 Sidney Puterman


Livraço. Seco. Perfunctório. Sem desperdício de palavras, o professor de História Jacob Gorender assina um livro sóbrio e agudo. Um guia para entender a luta armada e os movimentos de esquerda no Brasil nas décadas de 60 e 70. Uma enciclopédia sobre quem era quem na esquerda brasileira nos anos de chumbo - colocando o acompanhamento das organizações em primeiro plano. Em um relato didático, expõe o embasamento teórico que originou os grupos e sustentou ideologicamente os que pegaram em armas contra o regime. O autor eleva a ação da esquerda que optou pelo confronto armado a um outro patamar.  Ele sabe do que fala: Jacob Gorender é fundador do PCBR, provou do pau-de-arara e puxou dois anos de cadeia no Tiradentes. Não obstante seu envolvimento pessoal (que o aproxima) e sua condição de historiador (que requer distanciamento), não se isenta de exprimir opiniões contundentes sobre delatores e heróis, sobre equívocos e fracassos. Ainda que crítico e honesto, seu relato reforça em mim a convicção de que a luta armada no Brasil foi uma sucessão de bravatas, espasmos e necrológios. Seu livro me esclareceu muito: sempre quis entender aquela barafunda de siglas (MR-8, COLINA, VAR-Palmares etc) e a motivação daquele pessoal alucinado que roubou bancos e implantou guerrilhas (agora sei que eram focos) nos cafundós do País. Embora já tivesse lido outros autores, com o livro de Gorender saí da ignorância chã – e percorri os intrincados mecanismos de crença, engajamento e lealdade. (O mercado editorial, nos últimos tempos, vem sendo pródigo no lançamento de novos títulos sobre o período. A sua, eu não sei. Mas a minha obrigação é ler.) Não mudei meu julgamento, por enquanto, sobre aquela luta de esparsos idealistas  - que reuniu algumas dúzias de militantes apaixonados, de estudantes confusos, de trabalhadores revoltados, de fundamentalistas teóricos, de outros tanto indefinidos belicosos etc - contra um exército nacional. Porque, se você for ver, não tinha como aquilo dar certo. Não deu. Cambada de malucos. 

Editora Ática, 291 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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