"O Xangô de Baker Street", por Jô Soares

sexta-feira, outubro 12, 2012 Sidney Puterman


A primeira impressão é bastante favorável. O autor é um humorista inteligente e seu livro é uma anedota contada com graça e leveza. Mais: Jô Soares demonstrou bom-gosto na escolha do cenário, ao optar pelo Rio de Janeiro do século XIX como ambiente para a sua trama – quase que uma avant-garde  do que Woody Allen faria tantos anos depois, com seu saboroso “Meia-Noite em Paris”. Jô é um craque do texto fácil.  Espirituoso. Ostenta uma erudição minimalista. É leitor perspicaz e domina a técnica da escrita sem solavancos – não à toa o sucesso do título.  Sua pesquisa sobre fatos e personagens desse Rio histórico oferece um texto de leve massa folhada, que se assemelha a sketches de programas de humor, tal o seu timing. E as piadas são a espinha-dorsal desse simulacro de romance policial, onde o contraponto étnico proporcionado pela dupla de ingleses às voltas com a quente, sensual e apimentada capital dos trópicos oferece um inacabável estoque de gracejos. Aí vem a reviravolta, para a  minha paciência e para minha boa vontade: o problema é que disso, infelizmente, o livro não passa, aí se nos revelando a fragilidade da obra, que tem por apoio uma dúzia de anedotas, pouco além do razoáveis. Tirando os parangolés históricos e as boutades que dominam os diálogos e circunstâncias, sobra um caldo ralo e insosso. O desenrolar frustra o leitor, que se deixou convencer pela promessa aparente de um livro denso e estruturado (como eu).  Já a partir dos primeiros capítulos - depois percebi - o enredo se dá em dutos paralelos que nunca se encontram: a descrição esterotipada feita pelo autor dos gestos e pensamentos do criminoso e o roteiro de descompromissada comédia de costumes que avança a cada mudança de cenário. O bom livro de suspense provoca o leitor para que decifre o enigma; nesse livro do Jô o leitor descobre que o mistério era uma troça. Quem lê, que faça as suas concessões, porque eu não as faço. No fim das contas, é um bestseller – e, consinto, só isso já reverencia o talento do autor. Ocorre, porém, que, em geral, os bestsellers são má literatura. Não estamos diante de uma exceção.

Companhia das Letras, 344 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

0 comentários: