"Jogo Sujo", por Andrew Jennings

terça-feira, setembro 11, 2012 Sidney Puterman


Foi um período confuso. Li esse livro ao mesmo tempo em que mergulhava na obra do jornalista José Nêumanne sobre o sindicalista Lula e enquanto lia nos jornais as peças de oratória dos advogados dos réus do mensalão. Não é pouca coisa. Não sabia mais se mequetrefe era o prefeito do PT ou o presidente da Federação de Futebol da Jamaica - é que lá e cá o couro come. Andrew Jennings, o autor,  parece o tal zagueiro-zagueiro: desce a borduna. Porque Jennings é um denuncista. Ele apura e denuncia. Joseph Blatter, presidente da FIFA, o odeia. A FIFA proibiu-o de assistir às coletivas de imprensa e de estar presente nos eventos promovidos pela entidade. Não é à toa. Jennings relata o antro sórdido de corrupção miliardária que é a organização, criminosa. O autor não poupa nada, nem ninguém. Até os brasileiros entram de roldão - no livro, João Havelange e Ricardo Teixeira são alguns dos protagonistas, bem remunerados, da escala de distribuição polpuda de dinheiro empreendida pela ISL em sua parceria com a FIFA. A TV Globo também está no bolo (o que demonstra que as chances das denúncias de Jennings ganharem repercussão na Vênus Platinada foram, são e serão próximas de zero). Quem quer ver o detalhamento da gigantesca teia de corrupção que é a FIFA pode seguir na obra o passo-a-passo da compra de votos, das negociatas para transmissão e patrocínios dos eventos, dos ingressos de cortesia vendidos no câmbio negro, dos gordos mensalões pagos a cada federação inexpressiva - e se deleitar. Das armações fajutas no Caribe às transações pelo direito de sediar as Copas, o texto é um prontuário. Jennings é um esteta do cinismo. Pena que ele, porém, restrito às suas poucas armas – denúncia e sarcasmo -, é impotente para ir além disso. É um cão que late, mas que tem poucas oportunidades de cravar seus dentes em carne macia; raivoso, sua maior dentada foi o livro. “Vou escrever um livro sobre esses mal-feitos”, deve ter pensado. Ou ameaçado. Foi em frente e escreveu. Me coube comprar e ler. É o mínimo que posso fazer pelo seu tenaz esforço investigativo. Mas não escondo de ninguém: se, como denúncia, seu trabalho é impressionante, como livro é maçante. Ossos do ofício. A literatura é ingrata.

Panda Books, 351 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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