"Filho teu não foge à luta", por Fellipe Awi

terça-feira, julho 31, 2012 Sidney Puterman



O UFC 148 bateu todos os recordes de venda de pacotes pay-per-view. O confronto, Silva vs Sonnen II, trazia o lutador considerado o melhor de todos os tempos, Anderson Silva, contra o wrestler marqueteiro Chael Sonnen. As ácidas provocações do americano estimularam uma audiência de centenas de milhões de telespectadores ao redor do mundo. O pau ia comer e todos queriam ver. O “Aranha” ia esculhambar o ianque desbocado ou ia ser colocado pra baixo e ser amassado por cinco rounds, como na primeira luta? Frisson. Já não importavam retrospecto, origens, modalidades; era uma briga de rua disputada na principal avenida do planeta - a TV. Dois desafetos iam sair na mão e o mundo queria assistir. Porém, o que essa platéia vidrada desconhecia é que esse era apenas mais um round de uma grande briga que começou muitos anos antes, nas esquinas da Zona Sul do Rio de Janeiro, onde rolava uma antiga rixa entre academias de jiu-jitsu e de luta-livre. Os casca-grossas da época agendavam confrontos e desafios - e uma porradaria na praia de Ipanema foi o rastilho de pólvora do que viria a ser uma hecatombe midiática. É justamente essa a história que o jornalista Felipe Awi entrega em sua primeira obra. Em um bem dimensionado painel, onde desmonta a ordem cronológica e prioriza o perfil dos ídolos, ele conta o processo de formação de um dos grandes shows televisivos do século 21. Se as primeiras dezenas de páginas adicionam pouca informação a quem leu a desigual biografia de Carlos Gracie, o pai do brazilian jiu-jitsu (como os americanos denominaram a versão do jiu-jitsu aprendida por Carlos e desenvolvida pela família Gracie), o relato ganha densidade a partir da venda da marca UFC para os irmãos Fertita e o ex-boxeador Dana White, esmiuçando o passo a passo da construção de uma holding bilionária. Com habilidade, Awi enumera os grandes nomes brasileiros das artes marciais mistas (MMA, na sigla em inglês) e, fugindo ao lugar comum, constrói sintéticos e reveladores perfis. Entre outros, o de Pedro Rizzo, “The Rock”, de quem ele acompanha a ascensão e queda, em um exemplo de como humanizar gladiadores e dissecar o negócio global em que o octógono se tornou. Conservadora, sem grandes firulas, a obra está entre as melhores do gênero Esporte & Grana. Já o título, que fala em "brasileiro que não foge à luta", é um mero trocadilho pseudo patriótico capeando um texto cujo maior mérito é justamente o oposto - o abandono do ufanismo em prol do pragmatismo (o próprio Anderson Silva fez o possível para fugir à revanche pedida por Sonnen, e só topou porque business is business). O Spider, empurrado a estrelar o referido show que bateu todos os recordes, subiu no palco e desceu a mamona no branquelo, que arregou rapidinho ao ver a piaba cantar. Ao fim, fujões e espancados faturaram os tubos. Você torceu? eu também. Mas era de negócios que eles tratavam.

Intrínseca, 312 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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