"Bucaneiros da América", por John Esquemeling
Atrocidades, ardis militares e antropologia. É disso que
trata o livro. Que, nisso, é bom. Ainda que fragmentado – mas o que se pode
esperar de escritos de piratas do século XVII? Já é suficiente que alguns deles fossem alfabetizados e
tivessem apego ao registro histórico. A costura de relatos apresentada nesse
livro é, naturalmente, desigual; fosse de outra forma, seria menos verossímil.
Os comandantes piratas apresentados se assemelham aos chefes do tráfico e de
mílicias de hoje em dia. Criminosos inteligentes, com capacidade de liderança e
de associação, frios, cruéis e inescrupulosos. As barbaridades que eles
perpetravam eram dignas da época; as torturas, inomináveis (tanto, que não
citarei uma sequer). A rotina era o roubo, o estupro e o incêndio. O destemor
com que lidavam com os riscos e a engenhosidade com que armavam suas
estratégias de assalto são, decerto, o conteúdo mais relevante. A descrição de
lugares, costumes e indígenas , com o sabor da visão do viajante profissional
do período, também tem seu valor. E, entre outras curiosidades, descobri que a
expressão “bucaneiro”, não provém de nada marítimo ou ilegal – eram
simplesmente os piratas franceses que tinham por hábito assar a carne de javali
em fogo de chão, o “boucan”. Ou seja, “bucaneiro” era quem fazia churrasco de
porco no buraco. Morria e não sabia dessa.
Artes e Ofícios, 342 páginas
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