"21 depois de 21", por Rafael Casé e Paulo Marcelo Sampaio
Eu estava rolando a barra de scroll no www.globoesporte.com quando vi a chamada convocando os torcedores botafoguenses presentes no Maracanã no dia da conquista do título carioca de 1989 para que clicassem ali. Foi o que fiz. Um livro seria publicado sobre o campeão de 89 e convocava as “testemunhas” a mandarem seus nomes. Os primeiros 2.121 nomes seriam relacionados no livro, que se chamaria “21 depois de 21” – uma alusão aos 21 anos sem títulos (encerrados naquele 21 de junho de 1989) e aos vinte e um anos passados daquela histórica vitória. A nota informava também que quem tivesse uma história curiosa sobre a data deveria enviá-la. Eu tinha. Mandei. Um dos autores, o professor de jornalismo Rafael Casé, gostou e pediu uma foto que ilustrasse minha história. Mandei também. Dessa forma, estou no livro. Não sozinho: na foto estamos eu e meus quatro filhos, todos envergando a camisa gloriosa. O livro é uma preciosidade. Os autores descrevem o pré e o pós campeonato. Avançam jogo a jogo. Relembram detalhes. Promovem uma catarse alvinegra para quem, como eu, integrou aquele bando gigantesco de torcedores escorraçados, humilhados, defenestrados das grandes comemorações, uma multidão de alvinegros frustrados nascidos ao longo da década de 60 e que só poderia conviver com vitórias recorrendo à memória alheia. Essa é a verdade. Comecei a acompanhar futebol na Copa de 70. Vibrei com Jair, o Furacão da Copa, e mal e esparsamente escutei os jogos do carioca do mesmo ano. No ano seguinte, 1971, com um time batizado pela imprensa de Selefogo (com os campeões mundiais Carlos Alberto Torres, Brito, Jairzinho, Roberto e Paulo César Lima), vi o Botafogo ser garfado no último jogo. No último minuto. E perder assim o primeiro título botafoguense que eu festejaria. A partir daí, cada ano foi um pote amargo de sofrimento e derrotas. Muitas delas. Isso teve fim em 89. Pelas mãos cheias de atalhos do bicheiro Emil Pinheiro. Um santo botafoguense. Porque essa era a verdade: o Botafogo estava acabando. Esfarelava. Não tinha time, não tinha clube, não tinha estádio, não tinha orgulho. Só tinha a torcida. Tinha o Emil. São Emil. E esse nosso bom velhinho – com seu narigão, seu paternalismo de contraventor e seu bolso cheio – contratou quem pôde. Não eram os melhores; mas eram bons o suficiente. Chamou o abençoado Valdir Espinosa, ex-lateral do Grêmio, sósia do Marlon Brando e colecionador de frases de efeito, para comandar o time (Espinosa tinha sido campeão do mundo como técnico do tricolor gaúcho, em 1981). Timidamente, a legião formada foi ganhando jogos e somando pontos. Com dor. Está tudo no livro. Você quer saber o que eu achei? Li e vibrei. Não fui leitor. Fui torcedor. Dos apaixonados, de bandeira em punho e coração na mão. Na noite de autógrafos, na reconquistada sede de General Severiano (em meados dos anos 90 o Botafogo voltou do exílio em que se encontrava em Marechal Hermes), eu fui, com meus moleques, pra comprar meu exemplar. O time de 89 estava lá. O ídolo, artilheiro e poeta Paulinho Criciúma autografou. O compasso preciso do meio-campo, Carlos Alberto Santos, que jogava de fraque, autografou. O humilde, chapliniano e imprescindível Vítor falou em nome do grupo e assinou no meu exemplar. Cantamos o hino. Estiveram lá quase todos os campeões. Como uma confraria. Por fim, se você quer mesmo saber o que eu penso do livro, eu afirmo que dispensei os critérios. Me resumo ao encantamento. Eu só adoro. Obrigado, Botafogo. Obrigado, livro. Um título que me deixou em estado mágico, pra sempre. Vá lá na página 234, que você vai me ver, careca e feliz. Rodeado de filhos. Campeão.
Livrosdefutebol.com, 316 pgs
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