"Samuel: duas vozes de Wainer", por Joëlle Rouchou

sexta-feira, setembro 09, 2011 Sidney Puterman

Quando o autor tem estreita ligação emocional com o biografado – por parentesco, amizade ou elo profissional – é comum o texto resvalar para a idolatria, a supervalorização dos predicados e ainda que venha a atenuar, ou mesmo omitir, as nuances de caráter consideradas pouco lisonjeiras. Parte desse pressuposto pode ser aplicado aqui. Como consta na orelha do livro, Rouchou traz até hoje as marcas do seu início de carreira na Última Hora e das palavras que lhe foram ditas pelo próprio Wainer: “daqui você não leva grande coisa, mas poderá chegar em qualquer redação e dizer que trabalhou com Samuel Wainer”. Se a sedução pelo personagem é fato, não se pode dizer que injusta, e também não se pode afirmar, por errado, que seu livro seja ruim – ele não é. Nele a autora se debruça sobre as memórias do jornalista, publicadas sob o título “Minha razão de viver” e transcritas de dezenas de fitas pelo também jornalista Augusto Nunes. Não se sabe o crivo de censura que seria aplicado por Wainer caso a edição não fosse póstuma. Mas no que foi relatado e - principalmente – no não-transcrito, Joëlle buscou individualizar as duas personas contidas no biografado: o Samuel judeu e o Samuel narrador. Ela esquadrinha declarações, percebe intenções e busca sentimentos no discurso do jornalista. Essa análise – interessante, decerto – leva a um aprofundamento em relação a um nome relevante na história política e editorial brasileira. E que não se esgota aqui: ao fim do livro, a autora referencia alguns participantes na vida de Samuel que se recusaram a dar declarações para a obra, entre eles Joel Silveira e Danuza Leão. Bem, essa última esteve com um best-seller na lista dos mais vendidos, “Quase tudo” (resenhado nesse blog em 14 de julho), onde Wainer é coadjuvante de destaque. Talvez sua reserva em depor para a publicação “concorrente” tenham sido sobretudo razões de mercado. Mas o que não é, hoje em dia?

UniverCidade Editora, 207 pgs

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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