"Resgatado do Reich", por Bryan Mark Rigg
A capa da primeira edição é horrorosa e o título induz você a imaginar que teremos aí uma história marcada pela crueldade nazista entremeada às situações de perigo, heroísmo e superação pessoal. Troque de livro: nesse, não há nada parecido. É o relato da manipulação burocrática de cordéis – onde, por intermédio de petições, lobbies e esforços diplomáticos, um líder religioso judeu já trancafiado no gueto polonês da Varsóvia ocupada pelos nazistas é de lá retirado para a Lituânia e em seguida despachado para Nova York. Fácil? De forma alguma. Requereu habilidade, pressão, dinheiro e tráfico de influência. Mas a recuperação do surpreendente e tortuoso caminho que levou à liberdade do Rebbe, líder espiritual dos Lubavitchers (seita hassídica do judaísmo), revela como a sociedade e os políticos norte-americanos se posicionaram - incluindo a colônia judaica, com todas as suas idiossincrasias - antes, durante e após o resgate do Rebbe e sua família. Embora seja coadjuvante no complexo mecanismo de fuga do protagonista, o grande personagem do livro atende pelo nome de Ernst Bloch, judeu mischling (meio judeu, meio alemão) e oficial nazista. Sua trajetória incomum traz brilho e nobreza à obra. O Rebbe nos EUA? Condenou as vítimas e classificou o Holocausto como justa vingança divina contra os judeus desvirtuados, que comiam carne de porco e praticavam outras heresias. O Rebbe, autor da afirmação, e seus companheiros se salvaram, destino diferente de 6 milhões de judeus. O rabino, até a morte, se queixava ainda que seus livros não foram resgatados. E Max Roades, advogado judeu determinante para o sucesso da empreitada, reclamava, por sua vez, que não o pagaram... Amigo, ficar tranqüila: não haver problema. Ser tudo patrício.
Editora Imago, 230 pgs
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