"As barbas do Imperador", por Lilia Schwarcz

terça-feira, julho 05, 2011 Sidney Puterman

Obra esclarecedora para quem quer entender um pouco mais do Brasil e do seu escorregadio tabuleiro político. D. Pedro II se caracterizou pela habilidade com que conduziu seu poder “moderador” e pela agudeza da sua estratégia de marketing - por mais que soe sacrílega a expressão, quando aplicada a um monarca dos Oitocentos. Porém, ela se adequa e poucos homens públicos a manipularam tão bem como o Imperador. Ao seu comando, sinecuras e comendas foram dadas e vendidas de acordo com o calor da hora, enquanto a cenografia de um exótico – e, mesmo àquela época, artificial - Império Tropical tomava todos os espaços da “imagem brasileira” (sem querer apequená-lo, mas em tentativa informal de contextualizar seu gestual público, traço um paralelo com o astuto Zé do Sarney, político nordestino que granjeou farto poder a partir da segunda metade do século XX: historicamente medíocre - chegou à presidência do País, em lance de sorte -, também investiu em erudição pessoal aparente, buscando respeitabilidade e mitificação do seu personagem). D.Pedro II, por sua vez, foi tão ou mais habilidoso que o mais marqueteiro dos políticos, se mantendo à tona, e à sua Coroa, em uma América do Sul tomada por repúblicas. Ocupou o espaço reservado à figura do “Rei”, preciosa a brancos e negros, e, no afã de transmitir essa “senioridade”, antecipou em décadas o ícone da velhice, se valendo para tal da barba que dá título à obra. Curioso é que preencheu de tal forma esse imaginário que passou à posteridade como sendo mais velho que o próprio pai, Pedro I. O livro de Schwarcz registra meio século de dedicação de um monarca à sua própria imagem - e foi de tal forma bem-sucedido que até hoje seu perfil de pré-Papai Noel, justo e dadivoso, tem lugar cativo na história afetiva do Brasil. Saudades do nosso Imperador.

Companhia das Letras, 623 pgs

Em tempo: o guri em fraldas em primeiro plano é o autor desse blog; a moça com óculos olho-de-gato que o segura é minha adorada avó Leopoldina. Vovó é homônima da mãe do Imperador D. Pedro II, tema do livro e cuja efígie enobrece o flagrante: ele está ao fundo, no alto, sob o sol do inverno de 1961.

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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