"Os filhos de Lobato", por José Roberto Whitaker Penteado
Baseado em pesquisas feitas no período 1987/1996 com leitores da obra infantil de Monteiro Lobato – que travaram contato com os livros nas décadas de 40 a 60 -, Penteado analisa a influência dessa leitura na formação da sua personalidade adulta e seus valores individuais, em texto de interesse para leitores contemporâneos do universo pesquisado. Um tanto deslocado, temporão à margem nesse sítio, acompanhei tudo de olho comprido, admirador confesso que sou do velho Lobato e dos seus personagens (que tanta camaradagem me fizeram na infância). De uns tempos para cá, porém, o livro e meus achismos perderam sua razão de ser. Consoante à atual política cultural, o laureado escritor Monteiro Lobato é agora assunto a ser defenestrado e regiamente amaldiçoado. Todos os seus ícones ruíram ou se esfarelaram. Pela nova cartilha do Ministério da Educação, sua doce e supersticiosa cozinheira preta, Tia Nastácia, virou exemplo explícito de racismo com afro-descendentes caipiras. Já ao Pedrinho (e ainda pela cartilha de meio milhão de exemplares), caso queira se redimir, não cabe mais caçar onças e pular de árvores, mas sim buscar um relacionamento homoafetivo com o Visconde Sabugosa, quem sabe sob o olhar glutão e libidinoso de um efeminado Marques de Rabicó. Sinal dos novos tempos. Um tempo que o bom Lobato - que teve a falácia de antever, 60 anos antes de Obama, um presidente negro dos Estados Unidos - não conseguiria jamais imaginar. Nem poderia: no demodê e preconceituoso Sítio do Picapau Amarelo, o rinoceronte sempre foi espada.
Dunya Editora, 394 pgs
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