"Eu fui Vermeer", por Frank Wynne

segunda-feira, junho 27, 2011 Sidney Puterman

Han Van Meegeren foi um pintor holandês de refinada técnica, à feição dos grandes artistas holandeses do passado. Teve dinheiro, sexo com as mais belas mulheres, obras expostas nos principais museus e quadros alvo de disputa e ofertas milionárias. Que beleza. Bem, seria, não fosse um ou outro pormenor - o sortudão tinha uns probleminhas. Primeiro, é que as telas que ele pintava  e vendia por fortunas eram assinadas por pintores mortos. Segundo, as mulheres que ele pegava não eram dele. Terceiro, é que oficiais nazistas, em uma Europa dominada pelo III Reich, se interessaram demasiadamente pelos seus quadros (que, lembramos, não eram “seus”). Mas não pense que foi isso que condenou o nosso amigo; Han era tão virado pra lua que nada disso impediu que ele continuasse tendo um vidão. O que complicou Van Meegeren foram as mentiras que ele contou durante a ocupação alemã  (apenas para justificar a razão da venda dos quadros) e que fizeram com que o julgassem, erradamente,  após a guerra, um colaborador nazista. Esta, que poderia ser a história fútil de um bon-vivant, escroque e marchand, virou o relato do julgamento do maior falsário de todos os tempos. Um gênio que deu o azar de nascer no século errado – algo como ser o Cauby Peixoto em um show exclusivo para fãs do João Gilberto. O livro, enxuto e bom de ler, nos revela um estelionatário que pintou Vermeer (um dos mais venerados artistas holandeses, mestre dos semitons, das luzes e das sombras) tão bem que até hoje, mais de meio século após sua morte, muitos Van Meegeren podem estar ocultos sob nomes absolutamente admirados. Em 2004, a tradicional Sotheby’s leiloou um… Vermeer?, “Jovem sentada ao virginal”, por 27 milhões de dólares. Se é uma obra-prima de 350 anos ou uma fraude quase perfeita, não há, por ora, quem nos traga a resposta. Os dois que poderiam afirmar – Vermeer e Van Meegeren – viraram adubo. E, lendo o livro, você já não sabe dizer até onde isso importa. 

Companhia das Letras, 296 pgs

Obs.: Aninha achou e me enviou esta foto em maio de 2018. Identifiquei o livro em minhas mãos e, pela beleza da companhia, se tornou de pronto a imagem do post de 7 anos atrás. A camiseta é de autoria da Leopoldina e eu sou de autoria dessa moça bonita aí de cima.

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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