"O inverno da guerra", por Joel Silveira

quarta-feira, maio 25, 2011 Sidney Puterman


O jornalista transformado em correspondente de guerra tem sua narrativa contaminada pelo panorama político da época. A convivência com uma realidade atípica para o cotidiano brasileiro – via de regra cordial e sem conflitos armados territoriais – tornou piegas um relato que sofre pela ausência da contextualização da Segunda Guerra nos demais cenários. A frente coberta pelo jornalista era secundária e seu desenvolvimento requereria informações que o situassem no panorama geral. Não as teve. Descrições mornas de pracinhas saudosos que deixaram à espera noivas apaixonadas permeiam o livro, ao lado de comandantes e recrutas sempre simpáticos, conscientes e corajosos. A convicção de que somos uma nação de guerreiros (até então adormecidos) e o ufanismo de que os tedescos – os alemães – não “podem” com o bravio espírito de guerra brasileiro é entregue ao leitor, que há de receber o peixe como lhe convém. Limitações evidentes da censura do governo ditatorial de Getúlio e a retórica empolada do jornalismo da época fazem do livro enfadonho e pobre repositório de informações sobre a guerra e a participação brasileira, ainda hoje polêmica. Sem desrespeito ao difícil momento vivido pelo autor e pelo exército nacional, o texto fica aquém da sua inserção histórica, como nos revela sua primeira metade dedicada à neve e aos contratempos do frio. Nela se percebe que “O inverno da guerra” tem muito mais inverno do que guerra. 

Editora Objetiva, 171 pgs

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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