"O inverno da guerra", por Joel Silveira
O jornalista transformado em correspondente de guerra tem sua narrativa contaminada pelo panorama político da época. A convivência com uma realidade atípica para o cotidiano brasileiro – via de regra cordial e sem conflitos armados territoriais – tornou piegas um relato que sofre pela ausência da contextualização da Segunda Guerra nos demais cenários. A frente coberta pelo jornalista era secundária e seu desenvolvimento requereria informações que o situassem no panorama geral. Não as teve. Descrições mornas de pracinhas saudosos que deixaram à espera noivas apaixonadas permeiam o livro, ao lado de comandantes e recrutas sempre simpáticos, conscientes e corajosos. A convicção de que somos uma nação de guerreiros (até então adormecidos) e o ufanismo de que os tedescos – os alemães – não “podem” com o bravio espírito de guerra brasileiro é entregue ao leitor, que há de receber o peixe como lhe convém. Limitações evidentes da censura do governo ditatorial de Getúlio e a retórica empolada do jornalismo da época fazem do livro enfadonho e pobre repositório de informações sobre a guerra e a participação brasileira, ainda hoje polêmica. Sem desrespeito ao difícil momento vivido pelo autor e pelo exército nacional, o texto fica aquém da sua inserção histórica, como nos revela sua primeira metade dedicada à neve e aos contratempos do frio. Nela se percebe que “O inverno da guerra” tem muito mais inverno do que guerra.
Editora Objetiva, 171 pgs
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