"Eu sou o último judeu", por Chil Rajchman

segunda-feira, outubro 07, 2024 Sidney Puterman


Hoje faz um ano do súbito ataque palestino a Israel. Como uma horda selvagem, três mil milicianos do Hamas cruzaram a fronteira e investiram contra civis. Em poucas horas, mil e duzentas pessoas foram mortas. Não pouparam ninguém. Trucidaram mulheres, crianças e idosos. Inclusive Gina. Câmeras de trânsito registraram o terror. Para merecer um tiro, bastava estar vivo. 

As vítimas colhidas nas ruas estavam todas desarmadas. Centenas de jovens surpreendidos em uma festa foram executados. Os rapazes foram mortos e as meninas foram estupradas. Não só: após o estupro coletivo, foram assassinadas. Os árabes, de forma metódica, atearam fogo em casas de família e em abrigos. Fuzilaram à queima-roupa e a sangue frio.

Organizadas, as unidades do Hamas fugiram de volta para Gaza antes que o exército israelense chegasse. Levaram como butim mais de duzentas e cinquenta pessoas. Não devolveram: completado um ano, metade dos sequestrados permanece em cativeiro, sabe-se lá em quais condições. A outra metade foi morta. Um punhado escapou, libertado pela IDF ou negociado pelo Hamas.

A ação foi longamente planejada e seu resultado superou as expectativas mais otimistas. Houve euforia no auto-denominado "Eixo da Resistência" - uma aliança informal de países e milícias, liderada pelo Irã e integrada também por Hezbollah, Hamas, houthis do Yemen e grupos xiitas do Iraque, Afeganistão e Paquistão. Se beijaram, em êxtase. Festa nas ruas, de Beirute a Teerã.

Embora os fatos sejam públicos e as informações estejam disponíveis, há quem não pegue as sutilezas.

Ontem mesmo, passados doze meses, ouvi um "cientista político" dizendo que o conflito está "escalando", e que é necessária uma solução que "traga a paz". Escalando? Paz? Como a grande maioria dos auto-denominados "especialistas", o tal cientista não sabe do que fala.

A paz não é o objetivo de nenhum dos atores árabes do Oriente Médio. A guerra é um negócio e os seus líderes são todos profissionais - ainda que aleguem motivações de fé e ideais patrióticos. Balela.

Nem tudo são flores sob o véu muçulmano. O jogo é de interesses. A Arábia Saudita, sunita, é parceira comercial dos Estados Unidos. O Irã, xiita, é adversário dos americanos e conta com o apoio ora dissimulado, ora ostensivo, de antagonistas dos EUA no cenário mundial, como China e Rússia.

Israel é um enclave ocidental no Oriente Médio, o que já seria suficiente para ser alvo do Irã. Mas sua existência se presta também para consolidar a liderança político-religiosa iraniana no mundo árabe. Incitar e coordenar a violência contra o infiel judeu lhe assegura o protagonismo em uma parte do mundo onde devoção fundamentalista e ódio ao estrangeiro são moeda corrente.

Não tendo fronteira comum e nem de longe interessado em iniciar uma guerra total contra o exército israelense, a principal arma do Irã é o financiamento de grupos terroristas. Este é o modelo que permitiu que nos últimos anos o Irã, indiretamente, atacasse Israel. 

Sua estratégia se concretiza por meio das milícias do "Eixo da Resistência", onde chefes locais sedentos de poder são hábeis em conduzir jovens para matar e morrer pela "causa". 

O Hamas, na Faixa de Gaza, e o Hezbollah, no Líbano, são as pontas-de-lança iranianas. Quando Israel declarou estar em vias de celebrar a paz com a Arábia Saudita, que sinalizou positivamente, o sentido de urgência se apossou do regime dos aiatolás. Era hora de acionar a mais radical das ferramentas. A paz dos judeus com os sauditas, se anunciada, seria catastrófica.

Não lembra? Confira como sites brasileiros republicaram notícias da Reuters comunicando que um acordo de paz entre Arábia Saudita e Israel estava sendo costurado. A notícia foi amplamente veiculada no Brasil em 22 de setembro de 2023, duas semanas antes do ataque terrorista do Hamas:

<https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2023/09/22/israel-esta-prestes-a-alcancar-acordo-de-paz-com-arabia-saudita-diz-netanyahu.htm>

Para esvaziar qualquer possibilidade de paz, o Irã autorizou que o abusado plano de invasão de Israel fosse deflagrado. Era um feroz ataque armado, mas sem objetivo militar. As taxas de sucesso eram irrelevantes. O que importava não era a ocupação temporária de uma faixa desimportante da fronteira - e sim a reação de Israel ao número de vítimas. Quanto maior a reação, melhor.

O ataque de um grupo terrorista palestino, estourando a fronteira entre Gaza e Israel, deveria ser bárbaro e escabroso, para que a retaliação israelense fosse também desmedida. Com o rastilho de pólvora aceso no paiol árabe-israelense, a guerra Israel-Hamas era garantida e o acordo de paz entre sauditas e judeus, inviável - ao menos enquanto durasse o conflito, que não tem prazo para acabar.

O simples estado de guerra já seria uma vitória iraniana.

Os desdobramentos dependeriam da extensão do revide judeu e de como a narrativa político-ideológica seria manipulada. Apesar de bem-sucedida na inversão do story-telling na mídia internacional (fazendo dos civis judeus decapitados e das jovens israelenses estupradas os culpados pelo sofrimento árabe nos últimos cento e cinquenta anos de História), a intensidade e a extensão do troco israelense ultrapassaram as previsões mais calamitosas.

Mas como calibrar esta resposta? Como mensurar como os judeus reagiriam a este ataque covarde?

É aí que entra a história do judeu polonês Chil Rajchman, "Eu sou o último judeu". Rajchman foi um dos poucos sobreviventes do campo de extermínio de Treblinka, que matou um número estimado entre 700.000 e um milhão de seres humanos. Todos foram mortos por serem judeus.

(Em tempo, isso é genocídio - quando o objetivo do assassinato coletivo é a extinção de uma etnia.) 

O livro foi publicado após sua morte, em 2004, sessenta anos após os eventos narrados. Eu já li dezenas de narrativas dos campos de extermínio. Não me lembro de nenhuma tão didática. 

A sua descrição da linha de montagem do matadouro humano é perturbadora. A logística que possibilitava que milhares de pessoas desembarcassem na estação de Treblinka e em questão de horas estivessem mortas, despojadas, violadas e enterradas era um processo selvagem. 

Os matadores alemães e ucranianos geriam a matança com prazer. Talvez tenha sido um  comportamento determinante para, em grande escala, gerenciar a morte de seis milhões de judeus. O ataque palestino de 7 de outubro passado reavivou estes fantasmas. É um lembrete. Os não-judeus podem subitamente invadir o gueto e, com prazer, confinar e degolar os judeus.

A violência da carnificina e o cativeiro sob a guarda do Hamas é a reexibição de um filme que os judeus achavam que já tinha saído de cartaz. Mesmo que não se igualasse aos campos de extermínio, como o de Treblinka, é inevitável a correlação. Ambos os eventos eram o resultado articulado de um plano racional para cometer uma ação - digamos - irracional.

Recordemos. Depois que a Solução Final (leia aqui no blog "Os nazistas e a Solução Final", de Mark Roseman) foi determinada na Conferência de Wannsee, em janeiro de 1942, o destino dos judeus da Europa estava selado. Chil foi um dos muitos milhões embarcados nos comboios da morte.

Partiu da estação de Lubartow, a 20km de Lublin, acompanhado da irmã caçula, Rivke ("uma bonita garota de 19 anos"). Ao chegar em Treblinka, são separados na estação. Homens à direita, mulheres à esquerda. Sucinto, diz o autor que "nos beijamos rapidamente e nos despedimos para sempre".

Seguiu para um pátio, onde foi espancado, despido e expoliado. Dali seguiriam para as câmaras de gás. Como cada leva de 10.000 judeus transportada pelos comboios demandava mão de obra para separar as roupas e depois carregar os cadáveres para as valas, algumas dezenas de jovens saudáveis eram postos à parte, para se encarregarem do serviço. Extenuados, cobertos de sangue e rasgados pelas chicotadas, geralmente levavam uma bala na cabeça, ao fim do dia.

Chil Rajchman, um destes jovens, revela a mecânica de funcionamento do campo e como sobreviveu ao extermínio genocida. Um entre milhares. Mesmo para um leitor experiente, sua narrativa é devastadora. Diríamos: Não é admissível que seres humanos se comportem assim. Vai nessa.

Após ter estado entre os 1% poupados da morte imediata, conseguiu estar entre os 0,1% integrados às equipes regulares de trabalho. Disse saber cortar cabelos e se tornou tonsurador. Sua função era cortar os cabelos das mulheres nuas. Tinha que fazê-lo com até cinco tesouradas, sob pena da chibata e da bala na cabeça. Os cabelos se tornariam perucas para as mulheres alemãs.

Ao fim de cada "atendimento", com as mulheres nuas e carecas correndo debaixo de pancada para uma das treze câmaras de gás de Treblinka, ele e os outros tonsuradores tinham que cantar uma canção "bonita" para os nazistas e os guardas ucranianos. Deboche sádico.

"Pessoas ao lado morrem asfixiadas e devemos cantar", se resigna Chil. De tempos em tempos", diz, "um dos guardas sai no corredor e olha para uma janelinha". Era para conferir se as mulheres já estavam mortas. Quando já ninguém respirava, era a hora da equipe de coleta de cadáveres.

Havia as câmaras menores e as maiores. Rajchman, que foi remanejado para este "serviço", diz que nas maiores as pessoas demoravam mais a morrer. Você já deve ter lido muitas histórias do extermínio. Mas devo reproduzi-las. Foi por isso que Chil escreveu seu diário. Para que soubéssemos.

"É um inferno. Quando as portas se abrem, as primeiras emanações são perigosas. Os cadáveres, de pé, estão tão espremidos uns nos outros, os braços enlaçados e as pernas umas sobre as outras, que os subalternos, na rampa, correm risco de vida enquanto não conseguirem retirar as primeiras dezenas de cadáveres. Em seguida, o monte se desagrega e os corpos se soltam por si sós. Essa compressão se dá porque as pessoas ficam apavoradas e se abraçam, umas às outras, quando são obrigadas a entrar na câmara de gás. Elas prendem a respiração para entrar e encontrar espaço. O corpo incha depois, durante a sufocação e a agonia, de maneira que os cadáveres não formam nada mais senão uma massa."

Como Rajchman já havia nos alertado, "os cadáveres apresentavam uma diferença dependendo se vinham das câmaras de gás pequenas ou grandes". Explica que "nas pequenas, a morte era mais rápida e fácil. Parecia, vendo seus rostos, que as pessoas estavam adormecidas: de olhos fechados, apenas a boca, numa parte das vítimas, ficava deformada, uma espuma misturada com sangue aparecendo nos lábios. Os corpos, cobertos de suor. Antes de expirar, haviam urinado e defecado."

Eram os corpos de pessoas comuns, como eu e você. O autor continua: "Os cadáveres provenientes das grandes câmaras de gás, onde a morte demorava mais a chegar, haviam conhecido uma atroz metamorfose, tinham o rosto todo preto, como se tivessem sido queimados, os corpos ficavam inchados e azuis. Tinham os maxilares tão trincados que era impossível abri-los para acessar as coroas de ouro, às vezes tínhamos que arrancar os dentes verdadeiros para lhes abrir a boca."

Os carregadores precisavam extrair o corpo do judeu morto desta massa, pô-lo sobre uma maca e despejá-lo em uma bancada, para ser "tratado" pelos dentistas. Rajchman conheceu bem a função.

Depois de ter sobrevivido a quatro semanas como carregador, o autor conseguiu uma vaga entre os "dentistas" - o que, pela especialização, aumentava suas chances de viver mais algumas semanas (0,01% dos judeus), caso superasse as chibatadas e a falta de água e comida. 

Os dentistas eram os que removiam o ouro e a platina da boca dos cadáveres. Inspecionavam também a vagina das mulheres mortas. Quem deixasse passar uma obturação (ou um diamante, ou aliança, ocultos) levava uma bala na cabeça.

Rajchman esclarece de forma pormenorizada como funcionava a linha de montagem, ou melhor, de desmontagem dos seres humanos.

"As tarefas de evacuação dos cadáveres eram distribuídas por vários grupos. Além dos rampiazhes (os subalternos na rampa, uns 20 homens), havia também entre 30 e 40 carregadores, seis dentistas e, nas valas, uma brigada de coveiros. Entre estes, uma dezena de homens dispunha os cadáveres na fossa, cabeça com pés a fim de fazer caber o máximo. Outro grupo cobria cada camada com areia, antes de alinharem por cima a camada seguinte de cadáveres."

O autor chama o ritmo frenético, a corrida de um lugar para o outro e as chibatadas de "cortejo diabólico". Alemães e ucranianos, chicote em punho, miravam sempre onde machucasse mais.

"Os rampiazhes deviam agir de maneira a que houvesse sempre um monte de cadáveres pronto, a fim de que os carregadores não tivessem que esperar", elucida Rajchman. "Os carregadores tinham que recolher um cadáver na corrida (e escolher de longe, com o olho, um corpo fácil de tirar do monte), atirá-lo sobre sua maca e partir a galope para a vala comum".

No transporte da rampa para a vala, os carregadores paravam em frente à brigada de dentistas, sem por o corpo no chão. Um dentista avaliava o interior da boca para ver se havia dentes de ouro ou próteses e, em caso positivo, destinava o cadáver a um dentista livre. Este tinha que extrair todos os dentes de ouro, sem passar nenhum - sob pena de entrar na chibata, pois os SS faziam o controle.

Chil conta que o dentista que fosse o último da fila era o que apanhava. Uma vez levou 25 chibatadas, em outra 70. "Ele me chicoteou as costas com toda a sua força e sempre no mesmo lugar. Quase quebrou minha coluna", diz. Infeccionou. Mas nem assim Chil morreu.

O livro é curto - mas minucioso. Rico em detalhes objetivos. Um registro fundamental.

A leitura é difícil, sei; mas educativa. Lendo estas atrocidades, às vezes não suporto e choro. Na maior parte das vezes, apenas prendo a respiração. Há quem prefira não ler - e, como consequência, não saber. Curioso que ainda assim haja os que não sabem e têm uma opinião formada. 

Mesmo tendo lido dezenas de narrativas dos campos de extermínio, e de ter visitado pessoalmente um deles - o mais famoso de todos, o de Auschwitz-Birkenau -, Treblinka me impacta de forma singular. O livro "Treblinka", de Jean-François Steiner, foi meu primeiro contato com a história do Holocausto. Eu tinha apenas treze anos. O que li, então, me marcou. E deixou uma cicatriz.

Seu subtítulo era "A revolta de um campo de extermínio". Uma ficção (também comentada aqui no blog), lançada nos anos 60, baseada no depoimento de sobreviventes. Chil Rajchman não está entre os depoentes. Por razões que desconheço, guardou seu testemunho até o dia da sua morte, seis décadas depois. Seu relato corrobora a maior parte do descrito no romance de Steiner.

Atente que a história do campo de extermínio de Treblinka é diferente daquela da maioria dos campos. Não no que diz respeito ao morticínio. Mas sim à forma que tudo terminou. Os mortos-vivos de Treblinka se rebelaram. Mataram seus algozes e fugiram. A quase totalidade foi morta na fuga.

A revolta aconteceu em 2 de agosto de 1943. Os prisioneiros judeus fizeram uma cópia da chave do depósito de armas e mataram os SS. Com os facões usados para retalhar cavalos mortos, os presos degolaram os guardas ucranianos. Depois de morrerem quase um milhão, mataram algumas dezenas. Para quem exige proporção, destaco que o número de baixas foi desproporcional.

Os condenados fugiram em bandos, à louca, em desvario. Zanzaram a esmo pelos bosques. Os nazistas os matavam e os poloneses locais, se os vissem, os deduravam. Ganhavam recompensas por cagoetar os zumbis que fugiram do inferno. Reputa-se que quase mil escaparam. À exceção de umas três dúzias, foram todos recapturados e executados.

Na sua fuga, sozinho, Chil foi salvo pela bondade de um casal polonês de camponeses. O abrigaram, lhe deram roupas e alimento. Um vizinho descobriu e cagoetou. Mas até dessa ele escapou. Conseguiu chegar a Varsóvia. Um amigo lhe escondeu e providenciou documentos arianos.

Ao fim da guerra, livre, o corajoso Chil resolveu ir para Montevidéu. Me surpreendi. Eu, que nunca fui, também estou indo para lá no fim do mês. A vida é assim. Cheia de coincidências.

A guerra no Oriente Médio segue o rumo desejado pelos seus perpetradores. Segundo publicado pelo New York Times nesta sexta, o líder do Hamas, Yahya Sinwar, pleiteia a ampliação da guerra. O chefe da milícia se recusou a avançar em um acordo de cessar-fogo e lamenta que o Irã e o Hezbollah "não tenham vindo em seu socorro": 

"Hamas leader is holding out for a bigger war", diz o título. "Yahya Sinwar has blocked a cease-fire deal and been frustrated that Iran and Hezbollah have not come for his aid", prossegue a matéria.

Os milhares de mísseis lançados pelos aliados contra o território israelense parecem não entrar na contabilidade do palestino. Os quarenta mil habitantes de Gaza mortos pelos bombardeios de Israel também não o sensibilizam. A destruição da Faixa de Gaza não importa. Sinwar quer mais.

O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, se pronunciou sobre o "ataque maciço iraniano com cerca de 180 mísseis ao território israelense". Na mesma sexta, o aiatolá "defendeu a ofensiva e também os atentados de 7/10, realizados pelo grupo terrorista palestino Hamas". Ali quer mais.

Hoje, quase oitenta anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, são poucos os sobreviventes dos campos de extermínio. Ironicamente, alguns que sobreviveram aos nazistas não escaparam ao ataque do Hamas de Yahya Sinwar, na ação bancada e festejada pelo Irã de Ali Khamenei.

Gina Smiatich, criança judia nascida em 1933 e prisioneira nazista em Theresienstad, sobreviveu ao campo, mas foi morta pelos palestinos em 7 de outubro passado. A então encarquilhada senhorinha, de 90 anos, foi metralhada em frente à porta de sua casa, no kibutz Kissufin.

Nunca haverá paz. Mesmo se o último judeu for morto.

Editora Zahar, 147 páginas  |  1a edição, 2010  |  Copyright 2009  |  Tradução  André Telles

Título original: "Je suis le dernier juif"




Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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