"Loco por ti", por Marcos Eduardo Neves e Gustavo Rotstein
Breve narrativa, apresentada em primeira pessoa, da passagem do atacante uruguaio Washington Sebastian Abreu Gallo pelo Botafogo, no período de 2010 a 2012 - mais precisamente, do dia 24 de janeiro de 2010 a 24 de junho de 2012. Entrou e saiu com derrotas. No miolo, foi protagonista de uma das mais memoráveis vitórias do Botafogo sobre um velho rival.
Eu sou duplamente suspeito para escrever sobre o livro e sobre a conquista. Antes de mais nada, sou um apaixonado pelo Botafogo, desde que me entendo por gente. Passei a acompanhar todos os jogos do time no início dos anos 70. Vi com os olhos que a terra há de comer os 6x0 no Flamengo, no Maracanã, no dia do aniversário do rival, 15 de novembro de 1972.
Mas aí o Loco nem nascido era.
Porque nem guri, em Minas, na província Lavalleja, Sebastian poderia imaginar que estaria um dia, lado a lado, na galeria dos ídolos alvinegros que estufaram as redes naquele tarde de sol no Maraca. Jairzinho (3, sendo um de letra), o argentino Fischer (2) e o talismã Ferreti marcaram não só naquele jogo épico - como marcaram, com diferentes graus de intensidade, a história alvinegra.
Destes três artilheiros letais, no panteão interminável de craques de nível mundial do Botafogo, Loco só ficaria atrás de Jairzinho. Aí também já era demais, né? Até o Loco sabe. O Furacão da Copa é um dos grandes de todos os tempos do Botafogo, superado apenas por Garrincha, Nilton Santos - homenageado ontem nas redes sociais da FIFA - e Didi.
(E estes quatro que mencionei acima estão também entre os sete maiores craques da história do futebol brasileiro* - só para constar, o futebol mais vitorioso do mundo. O que já dá a dimensão do Botafogo na história do esporte mais popular do planeta desde que Nero tocou fogo em Roma.)
Tudo isso mostra a grandeza do que esse uruguaio fez em campo. Se não era craque, não era bobo: tocava quase sempre de primeira, toco y me voy, e ia mesmo. Geralmente era barbante. Desengonçado, sem velocidade - era capaz de perder na corrida prum peladeiro sexagenário -, esbanjava colocação, visão de jogo e personalidade.
Além de uma técnica semi-suicida para bater pênaltis importantes. Chego lá.
A organização de texto de Neves e Rotstein, acertadamente, opta por abrir com a chegada de Loco Abreu ao Brasil. Para isso, volta um pouquinho no tempo, para circunstanciar as expectativas do atacante naquele momento específico e como ele encarou o convite para defender o Botafogo (acerto que, logo depois, o Fluminense tentou atravessar, com Loco já apalavrado com a diretoria de General Severiano; sujeito homem, disse não à melhor proposta do tricolor).
Na verdade, Loco estava jogando na Grécia, mas, por conta das altas - e justificadas - expectativas que nutria sobre a própria carreira, a sua cabeça estava na Celeste uruguaia e na Copa de 2010. A vitrine que seria aberta pelo Botafogo cairia como uma luva para quem buscava uma melhor estrutura para treinamento, um futebol mais competitivo, a proximidade com Montevidéu e, a cereja do bolo, um desafio à altura da sua audácia.
Bem, se o Loco queria desafio, aqui tinha um daqueles bem encardidos.
Depois de perder por três anos consecutivos o título regional para o antagonista do bairro vizinho, o Botafogo estava traumatizado. A forma como as derrotas se deram, quando foi clamorosamente assaltado pela quadrilha local, levaram o time e os jogadores a serem espezinhados, ridicularizados, debochados, zoados e sacaneados - ainda mais porque, numa entrevista coletiva, mesmo que sendo todos rodados profissionais do futebol, choraram de impotência, diante da cara-dura dos meliantes.
Sabe esses municípios do interior em que um bando criminoso fecha a cidade, queima caminhões, explode agências bancárias e faz reféns entre a população inocente, amarrada no capô das picapes em fuga? Pois o adversário em questão, mancomunado com a federação, agia assim.
(Não à toa, André Silva, vice de futebol do Botafogo de 2009 a 2012, o cara que bancou a vinda do Loco, diz, diplomaticamente, no posfácio: "A gente vinha de três anos de derrotas consecutivas [...], na minha concepção, dois anos com ajuda extracampo".)
Pois o clube rival não só agia tramando por baixo dos panos, como se orgulhava: o goleiro do time da Gávea, questionado pelos repórteres sobre um lance em que mais uma vez seu clube foi favorecido, não discordou; indo muito além, galhofeiramente resumiu o pensamento de muitos da agremiação: "Roubado é mais gostoso".
Achou pouco? Este mesmo personagem, em outra feita, disse assim: "Quem é que nunca deu porrada em mulher?" O autor das frases, pouco tempo depois, iria muito além do já inaceitável "dar porrada em mulher" e viraria manchete nas páginas criminais de todos os jornais do país. O acontecimento, escabroso, virou livro, que comentei aqui mesmo no blog, em 2014 (http://bit.ly/OGoleiroIndefensável).
O crime repugnante - a mando do goleiro, de acordo com o veredito do júri popular -, se daria um mês e meio depois do jogo que decidiu o campeonato carioca de 2010. Mas, na partida em questão, o futuro algoz da moça esquartejada seria um figurante histriônico. Nas imagens mais famosas do confronto, ele está sentado no chão, vendo a bola dentro do próprio gol. E o flagrante não representava apenas mais uma vitória sobre um rival contumaz. Tratava-se de uma catarse coletiva em pleno Maraca - e, entre muitos, para um atleta em especial.
O estádio era um palco sagrado não somente para os brasileiros, como também para os uruguaios; e todo mundo sabe o porquê. A tal Copa de 50. Para nós, uma chaga parcialmente cicatrizada em 1993, quando Romário lavou a alma do povo com um 2x0 contundente sobre a mesma Celeste. Para nuestros hermanos, o ápice. Pois foi neste campo sagrado que Loco levantou três títulos pelo Botafogo em menos de dois meses (Taça Guanabara, Taça Rio e Campeonato Estadual).
Deixemos a narração da primeira destas conquistas com o próprio Abreu. "Havia quase 70 mil pessoas no Maracanã naquele domingo, 21 de fevereiro de 2010. No momento em que entramos em campo, percebi uma bandeira do Uruguai no anel superior do estádio", revela o atacante, que não esconde o que sentiu. "Me vi como um uruguaio a jogar uma decisão no Maracanã, com direito à bandeira do meu país na arquibancada. Tinha que honrar aquela bandeira".
Como o livro conta, apesar da relevância histórica da conquista da Taça Guanabara (2x0 em cima do Vasco, "vingança" contra o mesmo time que havia goleado o Botafogo na estreia do Loco - jogo que, ele confessa, lhe deu "vergonha de sair na rua"), este primeiro caneco era apenas o aperitivo do que estava por vir.
O jogo decisivo que antecipei alguns parágrafos atrás, que é descrito nos mínimos detalhes pelo autor do gol do título, mereceu um capítulo só para ele. Um jogo ansiado, como o próprio Abreu definiu: "A grande partida. Tudo o que queria, desde que optei por defender o Botafogo."
A semana do jogo foi palpitante. Era o assunto em pauta, como reparou o Loco. "Só se fala sobre isso nos jornais e nas tevês". A expectativa tinha um travo desconfortável, pois, como ele mesmo testemunhou, "nós percebíamos que os repórteres falavam muito mais do Flamengo do que da gente". O jogador dá até um percentual da cobertura desproporcional (não sei de onde ele tirou o número, certamente hipotético, mas ele crava): "Sabe-se que 80% dos jornalistas são flamenguistas".
Talvez entre os ruins. Entre os bons não dá essa supremacia toda não.
Mas isso não afetou o ânimo do uruguaio. O desrespeito só o deixava ansioso. "Tudo isso nos colocava mais pilha. Sabíamos que no fim das contas quem iria decidir essa parada éramos nós e não a imprensa. Não se ganha título antes nem depois."
A gente conhece bem o que o Loco fala. Não à toa, domingo passado o Botafogo ganhou o título, com uma rodada de antecedência, da assim chamada "Super Série B", propalada como a maior série B de todos os tempos - com Botafogo, Vasco, Cruzeiro, Coritiba, Guarani e Goiás, além de outros times inequivocamente competitivos, como o alagoano CRB, que eliminou da Copa Brasil o Palmeiras, que ontem se sagrou tricampeão na Libertadores 2021, no Centenário de Montevidéu.
Pois os especialistas do jornalismo esportivo enterraram o Botafogo no início da disputa, antegozando a dificuldade do acesso e preconizando até uma possível queda para a série C. Erraram bisonhamente. O Botafogo foi campeão com o maior número de pontos, o maior número de vitórias, o maior número de gols, o melhor saldo e foi também o melhor mandante do campeonato. Sobrou.
Performance gloriosa, sob todos os sentidos. Registrada até em documentário, pelo SporTV.
Hoje, a propósito, o Glorioso dará a volta olímpica com a taça na mão, em um Nilton Santos com 36.000 torcedores extasiados aplaudindo o time. Bem bacana. Semana passada, despeitados, os rivais regionais se doeram. Acusaram o golpe e desdenharam. De repente a Super Série B virou "obrigação de time grande" e não poderia ser comemorada. OK. Vai desfiar essa ladainha incomodada em São Januário e na Toca da Raposa...
(A série B é tão difícil que o Fluminense, que chegou a cair para a C, conseguiu no tapetão voltar para a A sem ter que disputar a B e o Flamengo recentemente fez um acordo vergonhoso com a Portuguesa/SP, para que ela colocasse um jogador irregular em campo que, indiretamente, evitasse o rebaixamento do Flamengo para a série B. O Flamengo, devido ao expediente sujo, se manteve na A. Já a Portuguesa, pena, hoje pena na série D.)
Mas deixemos o presente e retornemos a 2010, que é o nosso assunto e o do livro também. Loco ressalta em suas páginas a importância de cada companheiro. Tinha até um "sócio" em campo.
"O argentino Herrera era o parceiro ideal para um centroavante como eu, por ser rápido e brigador. Se não tivesse a meu lado um companheiro assim, eu poderia até fazer gols e jogar bem, mas não naquele nível em que me encontrava. Ele era o 'sócio' que eu precisava."
O reconhecimento aos colegas não parou aí. "Nosso goleiro Jefferson foi impressionante", enfatiza. "Não por acaso acabou sendo eleito o melhor jogador do Campeonato Carioca. Ele fez a diferença, tanto é que passou a ser convocado para a seleção brasileira pouco depois."
Loco reverencia o "presidente" Alessandro e sua calma sob pressão, e elenca quase o time inteiro, de Fábio Ferreira, Fahel, Antônio Carlos, Somália e Marcelo Cordeiro aos coringas Edno e Caio, sem esquecer de Leandro Guerreiro e do cerebral Lúcio Flávio. "Pensava no momento certo", explica Abreu. "Tinha uma bola parada muito boa, sabia prender como ninguém, cavava faltas".
No jogo que fez de Loco o ídolo alvinegro que é - e que é também a razão de ser dessa obra e, em última análise, a desse post -, o momento mágico é o do gol da vitória. Foi de pênalti, um lance desprovido de especial beleza quando executado por 99% dos cobradores; não era o caso de Sebastian Abreu. O jogo estava empatado, em um gol para cada lado, quando o pênalti de Maldonado em Herrera foi assinalado.
"Estava 1 a 1, a torcida deles bem ali atrás, e o frio Bruno, goleiro deles, tinha muita moral - até por ser pegador de pênaltis", desenrola o atacante. Loco sabia que sua cavadinha era famosa: ameaçar dar uma pancada e executar uma batidinha leve, por baixo da bola, com efeito, fazendo a esfera subir e descer, girando no sentido contrário - o que reduz sua velocidade e dá tempo para que o goleiro caia no chão, e, caído, veja a bola entrando lentamente, à meia altura, no centro do gol.
Todo mundo sabia que o Loco gostava de cobrar assim. Já tinha feito até gol na seleção brasileira desse jeito, cobrando pela seleção uruguaia. Então, partindo do pressuposto de que todo mundo sabia, incluindo o goleiro adversário, por isso mesmo ninguém imaginava que ele teria c... ops, o destemor de bater desse jeito numa final, com o estádio lotado.
Mas quem conhecia o Loco já imaginava.
"Como disse antes, esperavam que eu pudesse mandar a cavadinha. Então, cobrei assim mesmo", conta, com sua singela empáfia, o intrépido goleador. Caprichosamente, a bola subiu um pouco além da conta e bateu no travessão, por dentro, antes de beijar as redes. Botafogo 2x1. Mas ainda havia muito jogo pela frente. O verdadeiro goleiro pegador de pênaltis (Messi que o diga) estava do outro lado e tinha uma estrela no peito.
"O árbitro voltou a marcar outro pênalti, do Fahel no Angelim", narra Abreu. "O grande nome do futebol brasileiro, Adriano Imperador, cobrou, aos 33 do segundo tempo, e Jefferson fez uma defesa espetacular, garantindo a nossa vitória e o título".
Ô glória. Incensado, o atacante não economiza nas palavras. "O fato é que, 60 anos depois, um uruguaio voltou a fazer História no mítico Maracanã", afirma Loco Abreu, novamente traçando um paralelo entre a Celeste campeã do mundo em 1950 e seu campeonato de 2010 pelo Botafogo. "Não é para qualquer um, não. Apenas Ghiggia, seus companheiros de seleção em 1950 e eu".
Mesmo depois de ter deixado o Botafogo, cujos detalhes são amplamente dissertados no livro, o Botafogo não deixou o Loco. Jogando em Santa Catarina contra o Flamengo, defendendo a camisa do Figueirense, o atacante teve um entrevero com a torcida rubro-negra, que pegou no seu pé ao vê-lo de pertinho, na hora de cobrar um escanteio. Conta Loco:
"Ao me verem de tão perto, os flamenguistas passaram a me xingar ainda mais alto e forte. Meu sangue ferveu. Reação involuntária, levantei a camisa do Figueirense e beijei o escudo do Botafogo, aquela Estrela Solitária desde 2010 costurada na camiseta 'sentimental' que uso por baixo. Ainda fiz com as mãos um gesto que lembrava a cavadinha."
Para quem não sabe, o escudo alvinegro só entrou na peça sentimental de Loco alguns meses depois do título alvinegro. E teve tudo a ver com sua participação memorável na Copa do Mundo de 2010, quando classificou a Celeste para a semifinal cobrando um pênalti contra a seleção de Gana. Mais uma vez, todo mundo pensava que Loco iria dar a cavadinha. Seus colegas de selecionado, mais que pensavam, temiam. Na véspera, no treino (quando Loco bateu três penalidades máximas e perdeu as três), já havia rolado uma resenha com o volante Sebastián Eguren:
"Loco, vamos lá", disse Eguren, "que amanhã eu vou precisar de você para os pênaltis!"
"Papote", esse era o apelido dele, "fica tranquilo, amanhã aparece a assinatura da casa".
"Não faz isso, Loco! Tenho familiares com problemas no coração lá no Uruguai. Vai morrer todo mundo..."
Loco só avisou: "Fala para eles tomarem remédio, porque vai acontecer...".
Pois aconteceu. Loco Abreu, o último a bater na série de penais decisivos, percorreu todo o campo, sob o olhar da plateia em Johanesburgo e sob o olhar do mundo inteiro - principalmente os uruguaios e os botafoguenses. Com cavadinha, foi o gol da classificação da Celeste, mais uma vez entre as quatro melhores seleções do planeta. E, no nosso íntimo, gol do Botafogo.
Na volta ao Rio de Janeiro, duas semanas depois do Mundial da África do Sul, coberto de triunfo pela heroica performance uruguaia (cara, o Uruguay é muito pequeno, é menor que a maioria dos estados brasileiros, e garantiu presença no seleto grupo de semifinalistas da Copa do Mundo) e emocionado com a apaixonada torcida alvinegra pela Celeste em todos os jogos da Copa, Loco resolveu que era hora do Glorioso entrar definitivamente na sua vida.
"Pedi aos roupeiros Zé e Amauri para colocarem o escudo do Botafogo no que eu chamo de minha 'segunda pele'. É a camisa que uso por baixo do uniforme a cada jogo. Nela estampo símbolos que foram ou são importantes na minha vida: imagens da família, escudos dos clubes que me formaram, como o do Nacional de Montevidéu, meu time do coração, e outras lembranças mais. A partir daquele momento - e até hoje - entrou na minha 'segunda pele' a Estrela Solitária."
Para quem não conhece, a segunda pele tão mencionada por Loco é esta camiseta azul que ele está vestindo na ilustração do post, segurando a taça de Campeão Carioca. A imagem, recortada contra o fundo, traz também outras fotos suas com o troféu e - surpresa! - euzinho aqui, com a mesma taça de campeão nas mãos.
E ainda ergui a bonitona antes do Loco.
Explicando tim-tim por tim-tim: a minha foto com o troféu foi tirada 24 horas antes daquela do Loco. A foto dele foi feita no gramado do Maracanã, ainda sob o calor do jogo, no domingo; a minha foi um registro protocolar na sede da Ferj, a federação estadual de futebol, no ar condicionado, no sábado antes do jogo.
Para minha felicidade, a minha agência de propaganda, a Todos Nós, foi a responsável pelo design do troféu de Campeão Carioca de 2010, um job para o nosso cliente Super Rádio Tupi, sob a batuta do inesquecível Alfredo Raymundo. Nós aqui na agência desenhamos o protótipo, aprovamos o layout e mandamos produzir a peça.
Teve drama: com a possibilidade do Botafogo ganhar tanto a Taça Guanabara (já conquistada) como a Taça Rio (a disputada no domingo em questão), a data de entrega do troféu teve que ser antecipada em duas semanas. O problema é que o fornecedor contratado em São Paulo roeu a corda e disse, na segunda-feira da semana do jogo, lá pelo fim da tarde, que o troféu não só não estava pronto, como simplesmente não daria tempo de fazê-lo. Pediu desculpas e tirou a escada.
Que beleza, ehm?
Pressionado, na marca do pênalti, saí feito um louco à cata de um novo fornecedor que avaliasse o projeto, passasse um orçamento compatível com o anterior e entregasse o troféu pronto em... inexequíveis três dias. Era como voltar pro segundo tempo tomando um sacode de quatro a zero e com um jogador a menos.
Mas os deuses do futebol estavam todos com os botafoguenses naquele fim-de-semana. Achamos uma metalúrgica do interior paulista, com bom preço, que se comprometeu a nos entregar o troféu, finalizado e polido, na sexta-feira que antecedia a final.
Foi com emoção: a encomenda só chegou no sábado pela manhã, véspera da partida. Corri para a Ferj, entreguei a preciosa a um dos vice-presidentes da entidade (ainda perguntei para ele, maliciosamente, o que ele achava que daria o jogo, e, quando ele me disse que levava fé no Botafogo, exultei: era um bom indício que a arbitragem não estava no bolso) e, aliviado, fui me concentrar.
Afinal de contas, no dia seguinte era tarde de decisão no Maraca e assim, o meu suor - além de todo o meu coração - também estava na disputa.
Tá explicado o que eu e a taça estamos fazendo nesta resenha do livro do Loco.
A foto do Loco com a taça é a prova de que tudo aquilo aconteceu de verdade. A realização de um sonho de milhões de alvinegros. E que não foi sem susto: fora os normais do jogo, o mesmo Somália que salvou com o joelho o gol de empate do adversário, no finzinho do segundo tempo, foi o maluco que, após o jogo, saiu correndo pelo gramado sacudindo a "minha" taça acima da cabeça.
Surtei: será que, feita às pressas, a taça cumprira todas as etapas do controle de qualidade? Os pontos de solda estavam seguros? Haveria alguma trinca? Eu era um torcedor eufórico com o título e aflito pelo ícone. Logo depois ela estava na mão do Loco, mais contido, que deu entrevista segurando o troféu, ainda dentro de campo. No vestiário, lá estava ele de novo com a taça, íntegra, na mão.
Ufa. Ô orgulho. Que conquista.
Pois foi assim, com raça, cavadinha e taça, que Washington Sebastian Abreu Gallo entrou hasta siempre na prodigiosa e incomparável história botafoguense. Como a torcida não se cansa de cantar, "não se compara". E, como diz o próprio Loco, "onde eu for, onde estou, o Botafogo está comigo".
Se você é botafoguense, tem que ler o Loco por ti. Se for vascaíno ou tricolor, até pode ler. Se o seu time é o outro, não perca tempo. Vai ser doído. Ainda mais neste fim-de-semana...
O livro do Loco traz também umas estórias engraçadas, entre elas a de que o Maracanã era azul porque o Brasil perdeu pra Celeste em 1950. Segundo ele, tal versão (estapafúrdia, pra mim) consta nos livros uruguaios. Neguinho também escreve cada coisa que eu vou te contar.
Loco Abreu, na semana em que escrevo este texto, onze anos e meio depois daquele campeonato carioca, acabou de conquistar mais um título, fazendo dois gols em mais uma final, quebrando mais um tabu e entrando para a história de mais um time. Aos 45 anos, Sebastian levou o Olímpia de Minas a ganhar o Campeonato Minuano, depois de 13 anos na fila.
Treze? Isso era mesmo um serviço para o Loco Abreu...
Museu da Pelada e Approach Editora, 135 páginas
*1) No excesso de craques produzidos pelo futebol brasileiro ao longo de um século, só estou considerando entre os SETE maiores aqueles que ganharam ao menos uma Copa do Mundo (Garrincha, Nilton Santos e Didi, duas, cada, e Jairzinho, uma). Aos quatro se somam Pelé (3), Romário (1) e Ronaldo Fenômeno (1).
*2) Quantas vezes a taça aparece na imagem que ilustra o post? É um tradicional número alvinegro...
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