"O Rio antigo do fotógrafo Marc Ferrez", por Gilberto Ferrez
Não tenho como ser imparcial ao falar desse livro. Foi presente de mamãe e, mais, perdi a conta das vezes em que esmiucei cada uma das suas dezenas de fotografias. Confesso: o fazia com tal intensidade que ou elas me hipnotizavam ou eu a elas. Na verdade, era o que eu queria. Boquiaberto, observava os transeuntes do passado, como se passassem agora. A verdade é que eu nunca antes houvera tido em mãos imagens tão vivas desse Rio do qual só ouvira falar. Era um tempo pré-internet e retratos assim não se achavam. Eram uma miragem em preto e branco. Um Rio de Aluísio de Azevedo e de Machado de Assis. De cortiços e quiosques. De muretas em Botafogo onde as ondas batiam e espumavam nas casas. De navios pesqueiros e vendedores de panelas. De escravos ainda escravos, os olhos baços, servis, no fundo dos quais eu olhava procurando me ver. Marc Ferrez foi um gênio e um estivador. Os ângulos aéreos que obteve daquela cidade de casario baixo e imundo eram o presente que merecia, após subir os morros levando nas costas sua pesada tralha fotográfica. Os panoramas que ele me trouxe - ou aos quais ele me levava - me proporcionaram viajar um século no tempo. E não só a mim: quem quiser comprar um bilhete, e embarcar nessa amarelada cronomáquina, basta ter o livro em mãos. E reserve alguns dias: se fizer como eu, que economizava as pranchas e me limitava a três ou quatro imagens de cada vez (para não gastar minha capacidade de me surpreender e emocionar com o que via), é passeio pra mais de quinzena. O itinerário é um Rio antigo que os Ferrez nos concederam inesquecível.
Editora Ex Libris, 221 páginas
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