"Os Argentinos", por Ariel Palacios
Tem bons momentos. É, porém, uma obra desigual, consequência da sua origem episódica: é que a editora resolveu lançar uma coleção sobre dezenas de países, nominando cada exemplar pelo gentílico, e entregando a responsabilidade do texto para especialistas no assunto - no caso em questão, ao bom correspondente Ariel Palacios. Fato é que eu, desavisado, encomendei o título sem saber que integrava uma coleção temática. Soubera antes e não compraria - porque o conteúdo não satisfaz a quem, interessado em saber mais da alma portenha, acaba levando menos do que desejava. Não obstante, o texto de Palacios é bem-humorado, e seu viés é mais (ou menos) ácido dependendo do tema que aborda. Dando desimportância ao seu figurino superficial, o livro é bem costurado, abrindo amplo leque de citações à história argentina, seus costumes e idiossincrasias. Há passagens muito boas - como sobre a acolhida ao nazismo alemão e as características do idioma e do lunfardo, a gíria do malandro portenho (por exemplo, "no tiene los patitos en fila", serve para dizer quando alguém está biruta; e, aproveitando a deixa, se aplica ao autor, ao usar o Fla x Flu como referência de rivalidade, quando, se muito, é exemplo de paranomásia) -, e outras minimamente curiosas, como a comparação do peronismo a uma ameba e o fato do tio do Che Guevara ter dado um tiro no Carlos Gardel rapazola (cuja bala nunca foi removida do tórax do cantor). O livro oscila seus verbetes entre a mesmice enciclopédica e uma sorrateira ironia, assim temperando o antes insôsso. Me parece um trabalho competente dentro dos objetivos da edição, que são, ao fim, opostos aos meus. Enquanto seu foco era falar um pouco sobre tudo, o meu era conhecer muito sobre um pouco. Ainda assim, na maior parte do tempo, nos divertimos.Editora Contexto, 360 páginas
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