"A vida sexual de Catherine M.", por Catherine Millet
Hoje é o Dia Internacional da Mulher - e achei que seria simbólico escrever sobre o livro da famosa crítica de arte francesa que
escandalizou a Europa, ao ver publicado seu despudorado libelo. Mulheres valorizam como relevante conquista a liberação
sexual e a quebra de barreiras. Por esse aspecto, homenageá-las-ei. Antecipo, entretanto, que não fazia a menor
idéia sobre quem fosse Catherine, quando li a reportagem abordando seu livro - o que, de fato, não tinha importância. O que
importava eram suas confissões escabrosas. O teor da reportagem
ressaltava como ela havia revelado as centenas de casos sexuais que mantivera e
como a França havia desabado em surpresa e comoção. “Isso me interessa”, refleti.
Demorei a achar o livro. Mais de um ano. Achei. Nele, a mulher não alivia. Ela
conta tudo em pormenores. Como se fosse um livro de culinária. E, digno de nota, com
a emoção de um livro de culinária. Tempera os capítulos com uma retórica empolada de um
tratado de psicologia, ensurubada com uma afetada prosa existencial. Aí você pensa que o texto é empolgante. Não é. É ruim. Millet cozinha uma mistura rebuscada
e entediante. Embora a autora seja promíscua e praticante de um sexo impudico, sua narrativa é escancaradamente desinteressante. São roteiros espetaculares para transas vulgares. Não escondo: o
livro é pura sacanagem, mas uma sacanagem chata. Suja, com um quê de torpe. Exemplo?
Saco sua confidência e reflexão na página 212:
“Ele me recrimina até hoje: ‘Se há uma coisa que você não faz
bem é ser mijada.’ Eu reconheço.” Pouco sensual (pra mim, né) e uma pequena prova dos nada tentadores acepipes servidos no livro.
São muitas circunstâncias inusitadas, ridículas – pornonsense –, somadas às circunstâncias repulsivas – pornovômito. No mais das vezes, não mais do que pornochatas. Os trocadilhos lhe deram náuseas? é que você não leu o livro.
Agir (selo Pocket Ouro), 232 páginas.
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