"50 anos a mil", por Lobão com Claudio Tognolli
A biografia de um sujeito não deve ser comentada por quem não gosta muito dele. Mas é justo o caso, aqui. Achei o texto prolixo; egocêntrico; entediante. O livro se constitui de dois elementos - reminiscências, detalhadas e banais, e toneladas de firulas frasais, significando... nada. Um festival de irrelevâncias. Sobretudo, auto-laudatório. Confesso: 90% dessa obra cabotina li na academia. Entre supinos, crucifixos e abdominais. Em meio às séries. Foi melhor assim, pra quebrar a monotonia. Puxava o peso, um, dois (...) sete, oito. Um minuto de descanso, enquanto lia três parágrafos. Colegas me perguntavam: "o livro é bom?". Não menti pra ninguém, exceto um ou outro. Teve um dia em que me animei, elogiei timidamente: é que o livro deu uma melhorada entre as páginas 301 e 303, foi masomeno até a 330, e eu me empolguei. O problema é que as outras 560 páginas foram péssimas. Pra deixar tudo mais maçante, o músico criou blocos entre os capítulos, denominados "Lobão na mídia", em fonte miudinha, transcrevendo aborrecidamente os suplementos culturais dos jornais de Rio e São Paulo – um clipping pessoal, parágrafos elogiando-o ou avacalhando-o, mas selecionados de forma que ele parecesse genial, maldito e perseguido. Orgulhoso da obra, reproduz letras das próprias composições - o que não depõe a seu favor. Se dedica a entregar amigos já mortos, a quem corneou, e a dedurar alguns ainda vivos, que o ajudaram. Fala de gente que comeu. A descrição da surra que deu no pai, quebrando o violão na cabeça do progenitor e chutando-o escada abaixo, é desconfortável; bem como as insinuações do interesse sexual da mãe por ele mesmo, Lobão. Os pais se suicidaram, e o próprio autor revela tê-lo tentado algumas vezes (sem sucesso, como boa parte da sua carreira). Lobão é um sujeito inteligente. Tem percepção aguda, é culto e sabe ler as intenções ao seu redor. Isso é bom. Mas reflexões e inconfidências interessantes são, ao fim, apenas breve passagem em um livro comprometido com a defesa de uma tese – a de um Lobão maior do que aquele que podemos constatar. Não sei a quantos ele convenceu com seu minucioso testemunho. Vejo na internet que há quem tenha gostado do livro. Eu não. Achei aborrecido.
Nova Fronteira, 593 páginas
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