"Stálin", por Simon Sebag Montefiore

segunda-feira, junho 20, 2011 Sidney Puterman

Considerado um dos maiores – senão o maior – livros de não-ficção da última década, o calhamaço diz a que veio. A biografia (parcial, pois a primeira metade da vida do revolucionário é contada em outro livro, do mesmo autor, publicada anos depois) de 860 páginas é o calço perfeito para que nos debrucemos sobre os durante longo tempo intransponíveis muros da corte stalinista e da ditadura soviética. É didático – e divertido – constatar quão próximas nos soam as influências do establishment comunista: a tirania, as intrigas, a basilar incompetência e o gigantismo do estado russo orbitam serelepes em torno do ditador georgiano. Assistimos duas dúzias de trapalhões, alcoviteiros e tarados vivendo em semi-internato no Kremlin, conciliando adultérios e vantagens pessoais, e modificando a história da Europa e do século XX. Precavenha-se: o livro é um mergulho no pântano íntimo da corte,  com direito a nadar de braçada nas c(*)s literais e metafóricas do Grande Guia. Montefiore, partindo de um fato determinante na vida do ditador – a morte súbita de sua esposa -, costura um multifacetado painel das relações de poder na CCCP, após a grande revolução bolchevique disparar o funcionamento da sua máquina de extermínio. O vai-e-vem de uma súcia de bajuladores ávidos para se manterem nas graças do seu Líder  protagoniza a encenação constante que, tragicômica, lembra as comédias de vaudeville. O texto é saboroso, a abordagem é cáustica e a pesquisa realizada nos porões de Moscou se tornou referência para os maiores historiadores do Ocidente. O Stálin de Simon é um personagem hilário, sem escrúpulos, enigmático e sedutor. “Stálin”, o livro, é imperdível. Tenha-o na sua prateleira. Proteja os livros ao redor.