"A primeira história do mundo", por Alberto Mussa

terça-feira, maio 26, 2015 Sidney Puterman

Alberto Mussa escreve com estilo. Sabe contar as histórias. Lustra as folhas com um verniz de erudição que lhe fica bem. Soube pinçar nesse nosso enevoado e silvícola passado uma estória que servisse de enfeite à História. Os primeiros anos do Rio são instigantes. Mussa nos descreve as praias, os pântanos, os casebres, os morros. Desfia lendas indígenas saborosas. Tudo muito bom. Mas falta alguma coisa. Algo não pega, algo não cola. É como se só ele estivesse viajando no barato. Não consegui acompanhar seu raciocínio. As idas e vindas do morto Francisco da Costa, as oito flechas, sua gostosa Jerônima, as amazonas, os suspeitos, os temiminós. A Casa de Pedra. O mapa, o tesouro, os suspeitos. Torrinha. Berquó. Merquior. Gonçalo Preto. Tudo muito sonoro, cantando bem pro paladar dos ouvidos. Mas não fisgou. Deve ser porque sou muito burro para acompanhar estórias de crimes. Tudo me parece um simulacro de sentido, que só existe na cabeça do autor, que esconde todas as cartas e as dispõe na mesa, cheio de firulas, como se fossem lógicas - e só nós não tivéssemos percebido a tal lógica soberana. Pois é. Eu não entendi nada. Até gostei muito de umas passagens. Como a dos coatiras, os índios que viviam de fazer nada. Só roubar e matar. Fica meio subentendido que foram extintos. Sei. Fala de um Jurupari que saiu pelo mundo combatendo a prática da cyryryca entre as amazonas. Um tal vocábulo cyryc que significaria escorregar. Pode escorregar, mas eu não engulo. A referida origem do termo. Diz à certa altura - altura baixa, lá no rodapé da página 196, quarto e último parágrafo - que "críticos severos o acusaram de ter distorcido fontes e forjado certos passos". Eu não o acuso de nada. Mas me põe lá entre eles. Os severos.

Record, 236 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

0 comentários: