"Assassinato de reputações", por Romeu Tuma Jr

terça-feira, maio 06, 2014 Sidney Puterman

A imprensa revela que o autor já faturou a bagatela de R$ 700.000,00 com a comercialização do livro. Justo. É um livro essencial para entendermos o Brasil desse início de século 21 - mas, lamentavelmente, não é um bom livro. Ainda que a afirmação soe contraditória, a própria definição que o autor dá à obra é esclarecedora: seu livro é uma peça de defesa. Romeu Tuma Jr. o escreveu no intuito de defender-se das acusações sofridas e, em paralelo, da forma como foi expulso do governo petista. Discursos de defesa, contudo, raramente geram bons livros - o que é exatamente o sucedido. Aqui, no afã de evidenciar sua inocência, Tuma se repete em diversas das alegações e escreve um livro certamente três vezes mais volumoso do que deveria. O calhamaço é aborrecido, pois a ladainha se divide na repetição minuciosa de cada caso, entremeada com carradas de auto-elogios, incluindo aí a constante apologia e beatificação do velho Romeu Tuma, já falecido. Drenadas as redundâncias e as loas à incensada dinastia Tuma, porém, as revelações do Tuminha (como ele mesmo se autodenomina) são pura nitroglicerina e, fossemos um país consciente do que acontece nas próprias vísceras, suas denúncias escabrosas tomariam conta dos meios de comunicação, dos cidadãos, dos políticos e fariam desabar dezenas de oportunistas amontoados em concubinato no cabide público. Isso não aconteceu. Fora um ou outro noticioso, como o Roda Viva, da TV Cultura, em que Tuma Jr enfrentou jornalistas sequiosos por sua garganta e por levá-lo a contradizer-se, mal se vê o livro na mídia - ou seja, nem atacado o livro é. O próprio ex-presidente Lula, acusado de ser informante do Dops e dezenas de vezes tratado pejorativamente pelo autor como "Barba", sequer se manifestou. Entretanto, para bom entendedor, meia palavra - ou nenhuma - basta. O silêncio oficial, ensurdecedor, desnuda o quanto de verdade contém o livro.

Topbooks, 557 páginas