"O Traidor", por Jimmy Breslin
Essa obra do ganhador do Prêmio Pulitzer Jimmy Breslin vêm em sachês. Em pelotas. Você mete a mão e tira uma esfera de tinta, como se fosse um bingo. Em alguns capítulos somos sorteados com uma narrativa convencional, noutras Jimmy prefere transcrever a ata dos julgamentos. Não fica claro se ele quer com isso causar algum efeito - oferecer o registro histórico e sem adjetivos -, ou se é mera preguiça; assim, cada novo capítulo se torna uma descontinuidade do anterior (o que faz de ambos, muitas vezes, maus capítulos). Breslin é também um personagem conhecido dos mafiosos que descreve - em uma das suas muitas tiradas, ele confessa que, como repórter criminal, nunca teve medo da proximidade com os bandidos: "Se você quiser ter medo de algo, tenha medo de ficar sem dinheiro." Jimmy é bom. Muito bom. Seu livro, nem tanto. A reticência talvez se deva ao fato de que eu e o texto somos de países diferentes - e esse último se espraia sobre um universo que não é o meu, sem ter a cortesia de nele me ambientar. OK, a culpa não é do escritor. É do editor. Dane-se. O fato é que isso me frustra. Falei das tiradas do Jimmy. Pois é. Vejam a definição dele de Máfia: "Desistentes do curso primário que se matam uns aos outros." Além das boas frases, sua prosódia singular me remete ao Diogo Mainardi: a pontuação dos dois, Jimmy e Diogo, é quase siamesa. Breslin tem um texto estiloso, marrento, ainda que um tanto hermético em suas concisas ironias (ele se poupa: a história dos bandidos lhe é tão íntima, que talvez ele creia seja dispensável uma apresentação formal - salpicados detalhes de cada um lhe parecem suficientes). Pena que sua autossuficiência nos conceda apenas uma visão de soslaio dos fatos narrados. Haja imaginação para o leitor. Ou complacência, como se tolerássemos um bêbado que pula partes da anedota e ri, à farta, sem que saibamos de quê. "O Traidor" é, na íntegra, uma reportagem com laivos interessantes, encorpando no terço final. Mas li suas duas centenas de páginas com a impressão de que não me deram a carteirinha para entrar em sua divertida Mafialand - me resignei a espiá-la, por detrás das ripas da cerca. Aí fica mais cansativo do que bom.Editora Larousse, 197 páginas
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