"Boa ventura!", por Lucas Figueiredo

quinta-feira, julho 11, 2013 Sidney Puterman


Um abrangente e divertido inventário sobre como o Reino de Portugal “aproveitou”  as mais de 1.000 toneladas de ouro extraídas do Brasil. É isso mesmo: durante pouco mais de 100 anos, nossos colonizadores recolheram das lavras brasileiras e injetaram na economia européia essa quantidade nababesca do cobiçado metal. Seu aporte trouxe impacto ao capitalismo nascente e desenvolveu grandemente o mercado… inglês! Pois é. Não chega a ser surpresa, mas é sintomático constatar que o ouro por aqui levou dois penosos séculos para ser descoberto e um perdulário século para ser esbanjado. O texto ameno de Lucas Figueiredo nos conta como Portugal NÃO investiu em técnicas de exploração, no Brasil, e NÃO investiu na qualidade da sua educação, em Portugal. Os reis, portugueses até a medula, aplicaram o quinto cobrado dos brasileiros em igrejas e baixelas de ouro, por um lado, e na aquisição de produtos da recém-nascida indústria inglesa, por outro - ignorando a necessária irrigação da sua própria economia. Endividados estavam, antes da descoberta das minas, e endividados permaneceram, depois de haverem dilapidado o tesouro que lhes caiu no colo (impossível evitar o paralelo irônico: tudo a ver com a forma com que até hoje nós, brasileiros, amamos o crédito fácil e o ócio extenso, resultando em improdutividade e falência  – geralmente, precoces). Por nos esmiuçar o passado, vale a leitura. A história, ainda que ótima, é contada em pedaços desiguais: a primeira metade parece mais coesa do que a metade final. Ao não nos entregar as minúcias de cada período, a leitura se torna mais acessível e torna mais fácil o aplauso (que me pareceu merecido): a superficialidade em certas passagens  é também  seu trunfo. Cá eu, pessoalmente, preferiria uma incursão ao âmago do conflito entre as Geraes e a Coroa, por gostar dos pratos densos - mas pode ter sido uma decisão acertada, favorecendo a comercialização do título.  Os capítulos curtos reforçam esse ponto de vista. Já as boas ilustrações, no fim do livro, só as descobrimos no término da leitura. Pena. Mesmo com esses senões, recomendo. Li-o na pré-Flip, às portas do velho Caminho do Ouro, e dei boas gargalhadas. Esses portugueses…

Record, 387 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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