"Morte no paraíso", por Alberto Dines

quinta-feira, outubro 20, 2011 Sidney Puterman


Moro em Petrópolis. Existem muitos vultos históricos mais, ou menos, vinculados à Cidade Imperial. Sei um pouco dos óbvios: D. Pedro II, Princesa Isabel, Santos Dumont, Getúlio Vargas, etc. Mas havia um, muito falado, de quem nada sabia: Stefan Zweig, reputado como um dos grandes da literatura européia na primeira metade do século passado; e que veio morar e morrer justo em Petrópolis, nos idos da década de 40. Lendo os jornais, soube que a sua antiga e efêmera moradia, pros lados das Duas Pontes, viraria museu; vi também Sylvio Back filmando na cidade tomadas do seu longa “Lost Zweig”, em co-produção com os europeus; percebi, assim, que sua presença em nossas plagas estava sendo revisitada. Portanto, ao dar de cara com a reedição ampliada da biografia sobre Zweig, corri para enfim dividir com o eminente austríaco minha paixão pela cidade, na expectativa de passear por ela em outras épocas, a reboque do livro. Mas a verdade é que ele me conduziu para muito além do município... Fui parar na Viena dos anos 20. Me imiscuiu na correspondência de vacas sagradas como Freud e Thomas Mann. Me envolveu com o sionismo pré-Segunda Guerra Mundial. Me fez de joguete de um lado para o outro de um planeta em convulsão. Os parágrafos curtos de Dines, suas sentenças telegráficas, a melancolia de seu biografado – tudo nos trancafia em uma tristeza sem alternativas. Zweig pôs fim à vida e sua desistência nos fica como um nó na garganta. Órfão do amigo que antes não tinha e que agora se foi, percebo que ainda não sei bem como encaixar Petrópolis nessa história. Talvez estejam ambos sem lugar.

Editora Rocco , 565 pgs

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

Um comentário:

  1. Adorei seu post. Acabei de adquirir e livro e é o próximo que vou começar.

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