"Nervos de Aço", por Roberto Jefferson

domingo, maio 12, 2013 Sidney Puterman

Li o livro por gratidão e lealdade. Faço parte do grupo de brasileiros bobos que acredita que o Julgamento do Mensalão foi um evento histórico. Alguns homens são responsáveis pelo sucesso da Ação Penal 471 – mas Roberto Jefferson é o único responsável pela sua existência. Ele escreveu o livro para registrar em brochura e dar ares patrióticos à sua denúncia, que provocou a cassação dele próprio e do deputado e ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. Não o li à época. Li agora, após o julgamento, como que para agradecer a Jefferson sua coragem. Poderia simplesmente dizer que não tenho palavras – mas as tenho, e não são todas para enaltecê-lo. Nunca fui fã do gordo Jefferson, à exceção dos seus homônimos, como o bom e velho Thomas e também o goleiraço do Botafogo. Mas o dublê de artista, advogado e político nunca me caiu bem. Hoje, mudei. Tenho uma estátua dele no meu quintal (ambos virtuais, o quintal e a estátua). Roberto Jefferson foi o guerreiro solitário que derrubou um plano maquiavélico de sangramento do País. Meio que um personagem alucinado e tupiniquim do #GameOfThrones. Mas, voltando ao livro, ele é chato. Fala do mesmo, chuta o mesmo, arrodeia o mesmo. Porém, as razões que ele desfia se prestam mais à análise da retórica; as que me importam são as consequências. O petropolitano Jefferson encarou três poderes, na sua determinação de não ser preterido, humilhado e escorraçado. Disse a si mesmo que levaria o inimigo agarrado a ele precipício abaixo. Ele o fez. Obrigado, doutor. O senhor salvou a pátria.

Topbooks, 375 páginas

Post Scriptum 2019: Em 2013, Bob Jeff era um personagem saído de "O povo na TV" para se alinhar a Collor, se amasiar ao PT e depois traí-lo, na sanha com Dirceu. O tempo de cadeia que poderia redimi-lo não evitou que ele voltasse à cena do crime. Aderiu ao governo Temer e ao governo Bolsonaro, com a mesma paixão que havia defendido Lula e Fernando Collor. Vocação é vocação.

Post Scriptum 2022: Por um coquetel de delitos, desde meados do ano Roberto Jefferson estava em prisão domiciliar. Mas o impetuoso político transgrediu as regras e a PF mandou uma viatura para levá-lo de volta ao presídio. Era um domingo, 23 de outubro, a uma semana do segundo turno  da eleição. Jefferson recebeu os policiais a granadas e rajadas de metralhadora. Sem comentários.

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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