"O Traidor", por Jimmy Breslin

sábado, dezembro 14, 2013 Sidney Puterman

Essa obra do ganhador do Prêmio Pulitzer Jimmy Breslin vêm em sachês. Em pelotas. Você mete a mão e tira uma esfera de tinta, como se fosse um bingo. Em alguns capítulos somos sorteados com uma narrativa convencional, noutras Jimmy prefere transcrever a ata dos julgamentos. Não fica claro se ele quer com isso causar algum efeito - oferecer o registro histórico e sem adjetivos -, ou se é mera preguiça; assim, cada novo capítulo se torna uma descontinuidade do anterior (o que faz de ambos, muitas vezes, maus capítulos). Breslin é também um personagem conhecido dos mafiosos que descreve - em uma das suas muitas tiradas, ele confessa que, como repórter criminal, nunca teve medo da proximidade com os bandidos: "Se você quiser ter medo de algo, tenha medo de ficar sem dinheiro." Jimmy é bom. Muito bom. Seu livro, nem tanto. A reticência talvez se deva ao fato de que eu e o texto somos de países diferentes - e esse último se espraia sobre um universo que não é o meu, sem ter a cortesia de nele me ambientar. OK, a culpa não é do escritor. É do editor. Dane-se. O fato é que isso me frustra. Falei das tiradas do Jimmy. Pois é. Vejam a definição dele de Máfia: "Desistentes do curso primário que se matam uns aos outros." Além das boas frases, sua prosódia singular me remete ao Diogo Mainardi: a pontuação dos dois, Jimmy e Diogo, é quase siamesa. Breslin tem um texto estiloso, marrento, ainda que um tanto hermético em suas concisas ironias (ele se poupa: a história dos bandidos lhe é tão íntima, que talvez ele creia seja dispensável uma apresentação formal - salpicados detalhes de cada um lhe parecem suficientes). Pena que sua autossuficiência nos conceda apenas uma visão de soslaio dos fatos narrados. Haja imaginação para o leitor. Ou complacência, como se tolerássemos um bêbado que pula partes da anedota e ri, à farta, sem que saibamos de quê. "O Traidor" é, na íntegra, uma reportagem com laivos interessantes, encorpando no terço final. Mas li suas duas centenas de páginas com a impressão de que não me deram a carteirinha para entrar em sua divertida Mafialand - me resignei a espiá-la, por detrás das ripas da cerca. Aí fica mais cansativo do que bom.

Editora Larousse, 197 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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