"Eles eram muito cavalos", por Luiz Ruffato

segunda-feira, dezembro 09, 2013 Sidney Puterman


Ganhei o livro de um antigo amigo da faculdade, onde fazíamos jornalismo e outras coisas. Ele foi ser jornalista, eu fui ser outras coisas. Décadas passadas, nos revimos, para uma garrafa de vinho - ele aí me deu o livro. Desde então, não mais estivemos juntos; e somos erráticos no facebook. Pena. C'est la vie. Até ganhar o exemplar eu não sabia da existência do anônimo Luiz e hoje sei que esse é o famoso Rufatto que armou um quiprocó no estande brasileiro na feira do livro na Alemanha e os escambau. Pois o livro rolou muito tempo na minha estante. Anos. Vez por outra, olhava de esguelha pra lombada dele, sem levar fé. Eu estava era certo. Um livro ginasial, sobre porra nenhuma e com muitas firulas, numa prosa caracterizada por um experimentalismo que – fato - permeia a produção ficcional, mas cuja priorização da forma raramente acrescenta conteúdo ao texto – outro fato. Parece que eu voltei no tempo, às priscas eras setentistas, onde o samba-lê-lê superficial denotava inconformidade com o sistema e emulava ares de profundidade. Bons anos 70. Pelo que leio nos jornais, esse Ruffato faz hoje um baita sucesso. O livreto até tem umas passagens legais, mas, ao fim, é apenas picaresco. Dispensável. Tem frases como “três vezes o celular brotara”, o que já antecipa o estilo do autor. Não sei você, que tão pacientemente me lê, o que acha disso. Cada um tem sua opinião. Mas, voltando ao Ruffato, eu não tenho mesmo é saco pra essa literatura “autoral”, com seus rococós estéticos. Ainda bem que há quem goste. A diversidade é positiva.

Boitempo Editorial, 150 páginas.

Obs.: Hoje, véspera da véspera de Ano Novo, 30 de dezembro de 2013, esse meu antigo amigo veio me visitar, com a sua adorável esposa e as crianças. Nossas filhas se entenderam às mil maravilhas. Derrubamos duas garrafas de um honesto vinho espanhol. Fui logo avisando: desossei no blog aquele livro que você me deu. Ele respondeu: "Tá direito. Tem muito tempo que li, nem sei se ainda acho bom." E conversamos do passado e de viagens.

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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