"The Wrinkle", por Objetivo Thompson

domingo, dezembro 22, 2013 Sidney Puterman

Essa resenha é um ponto fora da curva nesse blog de escassos leitores. Vou falar de uma autobiografia escrita por um amigo. De um livro em que testemunhei parte do narrado. Onde discordo de alguns pontos de vista. É desconfortável, porque o amigo em questão é vaidoso e arrogante; mas todo mundo tem seus defeitos, meus amigos também. Inclusive eu, que não sou grandes coisas. Entretanto, apesar de algumas virtudes admiráveis do livro desse meu amigo - que refletem sua própria personalidade -, o que vai ficar do que irei escrever serão as críticas. Os elogios, ele ignorará. Como minha gratidão por ele é maior do que meu orgulho, mudarei o título, o nome do autor e evitarei referências; no mais, qualquer semelhança será mera coincidência. O Objetivo Thompson é conciso sobre o que aborda, embora aborde muitas desimportâncias. Thompson, porém, é bom contador de causos: não encurta, nem estende; o que faz com que a irrelevância do muito que descreve tenha um sabor agradável. Sua autobiografia tem um quê de coluna social, onde anônimos presunçosos se crêem invejados e, pelo destaque, apartados da raia miúda. Thompson teve infância privilegiada, o que foi seu principal lastro vida afora - e tornou verossímil seu estilo de nobre espanhol. Narra, a certa altura, sua admiração por Napoleão, o que me levou a crer na possibilidade de que tenham marchado juntos, numa dobra do tempo. Seu amor pela cultura não foi suficiente para nela se debruçar mais, mas seu verniz reluz. Objetivo sempre foi um respeitável palestrante, com timing na seleção de conteúdo e na exposição, repleta de informação estatística e geográfica - características presentes também na sua conversação sedutora. A maior parte dos seus curtos capítulos narram suas muitas experiências profissionais, que ele faz crer foram bem-sucedidas no todo e bem conduzidas pelo próprio. Não obstante, foram - como é perceptível, a despeito dos adjetivos auto-elogiosos e suas sintéticas e bem construídas análises - uma enorme coleção de insucessos. Não sei se ele engana a si mesmo. Não duvido, ele é ótimo. Seus comentários críticos sobre os outros são impagáveis: secos e ferinos. A pobreza estética e as carradas de erros de revisão parecem contraditórias, para quem só sabe dos seus cargos e fama. Porém, fora a própria pompa, ele não dá valor aos detalhes. Ao fim, apesar de tudo, um livro interessante, para quem o conheceu. Dispensável, para quem com ele não travou contato. Enganoso, para ambos.

Pequena Editora, 305 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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