"A Revolta da Vacina", por Nicolau Sevcenko

quinta-feira, novembro 15, 2012 Sidney Puterman

Comprei o título numa promoção via web da Cosac & Naify pela Livraria da Travessa. Tudo com 50%. Vi os que me interessavam e fiz a feira: uma dúzia ou mais. Entre eles, reboquei  esse “A Revolta da Vacina”. Paguei baratinho. Quando recebi, me espantou a finura do livrinho. Fui lê-lo agora há pouco, até como suporte para uma atividade profissional. Conhecia a lenda da Revolta, principalmente pelo aspecto folclórico – uma população obtusa e reacionária que pegou em armas para evitar a medicação que preveniria que ela, população, adoecesse. Muito louco. Ô povo. O livro começa bem, circunstanciando o jogo político da época, onde os oposicionistas manipularam a insatisfação popular contra a lei da vacinação obrigatória para tentar um golpe de estado contra Rodrigues Alves, malquisto pelos monarquistas e pelos militares ligados ao grupo que dera o golpe da proclamação da república (ação que hoje completa seu 121o aniversário). Porém, após esse que se revelou uma preparação para um ataque panfletário, a obra se restringe à monótona transcrição de matérias do Jornal do Commercio e a uma estapafúrdia arengação ideológica, em defesa de um povo hipoteticamente manietado em sua vontade pelo autoritarismo de Oswaldo Cruz. Transbordante de um discurso patético e defasado, o autor, Nicolau Sevcenko, brande a tese que a princípio espanta e depois nos faz rir: de que a lei foi uma “violência” contra o povo. O livro, oco e prolixo, carece de pesquisa, que é a matéria-prima relevante quando um autor se propõe a uma dissertação histórica. É uma obra indigente. Chance desperdiçada de se estudar um importante período da história brasileira. Em tempo: acredite você ou não, em sua lenga-lenga Sevcenko demoniza Pereira Passos e critica a reforma urbana que empreendeu no Rio de Janeiro, que pôs abaixo centenas de cortiços infectos para riscar a cidade com grandes avenidas – essenciais para que ela atendesse à sua vocação de grande metrópole. Provavelmente ele gostaria que comitês populares estivessem até hoje reunidos, num blablablá raso em ações práticas e pródigo em empregos bem remunerados.

Em tempo: fuçando na internet descobri que esse foi um texto pós-universitário do início da década de 80. É uma atenuante a favor do autor, mas que poderia ser revertida com aditivos à nova edição, o que não ocorreu. Assim, o livro permanece ruim.

Cosac & Naify, 136 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

2 comentários:

  1. Boa crítica, pena que recorre ao desgastado argumento ad hominem para se sustentar. Este vídeo do Bueno é muito bom: https://youtu.be/ToRMqivsS3w

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  2. Agradeço o "boa crítica". O argumento, entretanto, não tem nada de "ad hominem": mau uso seu da expressão, do latim ou de ambos. Arengação estéril.

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