"O que sei de Lula", por José Nêumanne

quinta-feira, outubro 25, 2012 Sidney Puterman



Iniciei a leitura do livro na morna paz do interior maranhense, na remota Barreirinhas; e fui terminá-lo na selva urbana, em plena barafunda do Mensalão. Não deixa de ter seu paralelo: José Nêumanne, o autor, veio do breu dos tempos para contar seu passado de repórter no ABC paulista. Dividiu prato feito com Lula e dormiu na casa, então simples, do futuro presidente do Brasil. Pôde testemunhar a ascensão do ex-metalúrgico (em plena ditadura) e teve a oportunidade de observar de perto suas virtudes e defeitos. Paulatinamente, assistiu à conversão do dirigente sindical iniciante em líder político - e também esmiuçou as influências recebidas por ele no sindicato, enquanto promissor coadjuvante. Acompanhou de camarote suas vitórias - já eivadas das traições e mentiras do ambiente político -, bem como escalavrou suas estórias escusas da prisão (do dedo perdido às viúvas dos companheiros mortos). Com toda essa lauta matéria-prima, Nêumanne doa à posteridade um depoimento fundamentado na experiência pessoal, na convivência íntima de outros tantos e nas despretenciosas entrevistas do Lula ainda bronco. Não há como entender o Brasil atual e o dos últimos vinte e cinco anos sem nos debruçarmos sobre o protagonismo do pernambucano Luís Inácio da Silva. E, para entendermos um pouco da trajetória do menino que desembarcou retirante na Grande São Paulo e saiu dela como a personalidade mais influente da política brasileira, a presente obra de José Nêumanne é essencial. O alfarrábio, bem escrito, chega até as raias da discussão da ação penal 470, sem saber do seu polêmico final (veredito que deveria estar no livro, de tal forma aquele desagua neste). Ainda assim, o texto não perde sua atualidade. E se mantém ímpar na difícil tarefa de biografar um mito.

Topbooks, 504 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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