"O bazar atômico", por William Langewiesche

sexta-feira, julho 15, 2011 Sidney Puterman

Livrinho curioso, com uma capa gaiata e um trocadilho no subtítulo (“a escalada do pobrerio nuclear”). Mas que conta, tim-tim por tim-tim, como fazer uma bomba atômica (ainda que não recomende).  E alerta para a banalidade da arma genocida que fugiu à esfera dos países ricos e se tornou uma quinquilharia acessível a quem queira investir tempo e dinheiro nela. Pior: se o equilíbrio que impede seu uso se sustenta na impossibilidade de defesa (ou seja, qualquer um que a use dá respaldo moral à retaliação, onde, no fim, morrem todos), quando jihadistas se tornam “barriga de aluguel” do artefato atômico não há mais alguém a retaliar. Um camelô dos infernos pode sair poraí mercadejando  uma arma que destrói quilômetros quadrados de qualquer coisa e você não tem a quem atingir de volta - mal comparando, era como se o finado Bin Laden tivesse “matado” os Estados Unidos, com um disparador portátil instalado em um avião alugado. O que fazer? Matar o cara que matou um país?  Tempos confusos. De fato, as tais “bombas de maleta” existiram (cogita-se que tenham sido fabricadas pela União Soviética e, depois, com o fim da ditadura comunista, comercializadas no mercado negro), mas hoje estariam obsoletas e inoperantes. Mas esses souvenires malignos são o de menos. E o grande estoque de urânio enriquecido que subsiste na Rússia e em alguns poucos e perigosos países? Como evitar que caiam em mãos erradas? É justamente trazendo a científica e inatingível questão nuclear para o nosso quintal que o simpático Langewiesche lastreia sua grande e bem aparafusada reportagem. Que ganha em dramaticidade quando conhecemos Khan, o pilantra inescrupuloso (para nosso azar, um gênio), que leva escondida em sua bagagem matéria-prima e conhecimento para o longínquo Paquistão, e lá monta seu balcão de secos e explosivos. Um contrabandista atômico que vira um vice-rei… bem, convém deixar algum segredo pra quem for ler o livro. O texto é curto e bom. Comprem.

Companhia das Letras, 190 pgs

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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