"Nunca houve um homem como Heleno", por Marcos Eduardo Neves

terça-feira, maio 17, 2011 Sidney Puterman

Confesso: relutei em comprar o livro. Puro preconceito contra o autor. Isso mesmo: soube que ele escrevera a “biografia” de Renato Gaúcho. Quem? Quando? Pois é. Não podia prestar. Mas, Heleno lido, cabe uma retratação. O autor é correto. O livro, ainda que exagere nas “contextualizações” – um modismo dos biógrafos para permitir que o leitor “entre” na época abordada – é amarradinho, numa seqüência cronológica comportada. E o biografado é um sujeito único, escancarado aqui por um pesquisador que não protege a memória do craque e revela suas contradições, crises e vexames. Por isso o livro vale a pena. No período retratado o futebol era outro e suas estrelas tinham órbita reduzida; mas não Heleno de Freitas. Por seu talento e arrogância, ultrapassou os limites que a época lhe permitia. Flor rara e venenosa, desabrochou à noite e o mundo não viu: restou um prematuro ocaso para o maior craque brasileiro de uma década sem Copas do Mundo. O que ele foi (por um curto tempo), o que ele poderia ter sido e aquilo em que se transformou é o que nos conta o livro de Neves, nos permitindo entrever a trágica trajetória de Heleno. O título, em um feliz trocadilho, referencia o sucesso “Gilda”, de 1947, com Rita Hayworth. É bom, mas episódico, reportando uma blague que o irritou menos do que se imagina. Um rodrigueano “O herói patético” seria definição melhor. Fica a sugestão. 

Ediouro, 310 páginas

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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