"Os Cadernos de Cozinha de Leonardo da Vinci", pelo próprio
Não me espantaria se o exigente crítico de gastronomia do JB nos anos 80, Apicius, tivesse se inspirado no texto dissimulado e mordaz do Da Vinci que assina o livro. Seus parágrafos são semelhantes na forma e saborosos no conteúdo. O livro - bem-humorado - permanece agradável mesmo ao descrever pratos e hábitos que vão do absurdo ao repugnante (que tal uma cabecinha de cabra partida ao meio, cozida por três horas, e servida em uma cama de polenta, guarnecida por um talharim de miolos e língua? de rezar, ehm?). Não obstante, para curiosos do cotidiano social através dos séculos, esses cadernos são um achado, ao expor, além da praxe culinária, relações entre senhores, seus iguais, apaniguados e inimigos, numa sutil malha sócio-política. As notas de etiqueta, sensatas, orientam a colocar os que têm a sífilis ou a peste longe do anfitrião – desde que não sejam sobrinhos de cardeais ou filhos de papas. Sobre o autor, o gênio que foi pintor, escultor, inventor e, sabemos agora, cozinheiro, não há comprovação histórica de que tenha sido o próprio Da Vinci. Mas, terminado o suculento e divertido banquete, se importar quem há de?
Editora Record, 210 páginas
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