"Fama & Anonimato", por Gay Talese
Gay Talese é uma lenda do jornalismo. Uma autêntica escola do texto se inspirou na sua métrica e abordagem. Apesar das décadas passadas desde a edição original da obra que fez dele um ícone (à época, a coletânea foi denominada "O olhar da multidão"), o autor permanece em evidência. É hoje capa de revista nos Estados Unidos, por conta da publicação recente da sua biografia e, por aqui, badalado por sua presença na última feira literária de Paraty, vem sendo figurinha fácil nos cadernos de cultura. Então, sem exagero nas mesuras, o texto de Talese merece todas as reverências do protocolo. Face ao tempo decorrido (meio século!), inevitável constatar que se tornou datado, em termos de estilo, mas sem o menor abalo em sua estrutura elegante. Até mesmo seu aparente despojamento é monumental e, nele, os personagens banais têm projeção mítica: uma ode à gente comum e a uma presumida desimportância. É o que encontramos nos seus macro-panoramas, como as crônicas sobre Nova York ou sobre a Ponte Verrazano-Narrows. Mas, se nos detivermos nos seus perfis, o tônus é ainda maior. A antológica reportagem com Sinatra, em que ele descreve seus interlóquios com todos que rodeiam o "The Voice", menos o próprio astro, mostra o esmero com que este descendente de italianos trabalha o madeirame sujo. Não se engane com a matéria prima bruta. Gaetano Talese, sentado à máquina, é um escultor.Companhia das Letras, 535 pgs
Post Scriptum: Hoje, o botafoguense, jornalista e especialista em música clássica, Arthur Dapieve, dedicou sua coluna à famosa reportagem de Talese, celebrando o centenário de Sinatra, a ser comemorado amanhã, 12/12. Acabou sendo a deixa para estampar, como imagem do post, o jornal impresso, com o livro posando ao lado. Registro devidamente feito.
O estilo que inspirou o jornalismo moderno. A cultura dos "cases", dar cara e voz a quem está do outro lado, na vida real, o anônimo. Fama & Anonimato é mesmo o ícone no new journalism. Vale a pena.
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